quarta-feira, dezembro 26, 2007

Os 10 melhores shows de 2007

10º lugar: The Egg
Único show que fui e sobre o qual não escrevi a respeito este ano. Foi no 1200 Festival que escutei pela primeira vez o The Egg, grupo londrino que mistura elementos eletrônicos e batidas pop. Com “Walking Away”, que recebeu um remix bacana de David Guetta, o The Egg ficou conhecido mundialmente, mas é uma pena que seu último CD, “Forwards”, de 2005, não tenha tido o reconhecimento merecido. Destaque para as faixas “Say you will” e “She’s terrific”. Melhor apresentação do festival.

9º lugar: Língua de Trapo e Premeditando o Breque
A apresentação dos dois grupos na Virada Cultural deste ano, em pleno Boulevard São Bento, com meu pai a tiracolo – ídolo – foi simplesmente o máximo. Lembrei-me de quando era pequena, e ficava sentadinha com o encarte enorme do vinil nas mãos, acompanhando as letras das músicas enquanto meu pai escutava. Pontos altos: Wandi chamando meu pai no microfone, pra mostrar o álbum que levava nas mãos, e os autógrafos que conseguimos pegar depois – de todos os integrantes.

8º lugar: Céu
Esta paulistana, que além de linda tem uma voz peculiar e um jeitinho único, conquistou o oitavo lugar no ranking deste ano. Conhecia um pouco de seu trabalho, mas fiquei surpresa ao vê-la pessoalmente. Destaque para “O ronco da cuíca” e “Valsa Para Biu Roque”.

7º lugar: The Killers
Mesmo tendo acontecido de uma forma cansativa – começando às 4 da matina de segunda-feira, e depois de mais de 10 horas de maratona de shows – não há como negar a qualidade musical dos integrantes do The Killers. Brandon Flowers tem uma voz linda, que por vezes lembra até o Freddie Mercury (não me batam). Apesar da demora na montagem do palco, a banda agradou e muito, principalmente com sucessos como “Smile Like You Mean It” e “Sam’s Town”.

6º lugar: Yamandú Costa e Dominguinhos
A dupla que veio de extremos opostos do Brasil ficou com a sexta posição da lista. Yamandú ao violão, Dominguinhos na sanfona. Harmonia inesperada. Qualidade impecável. Em determinado momento, Yamandú canta “Negrinho do Pastoreio”, e Dominguinhos responde com “Forró no Escuro”. Lindo, lindo.

5º lugar: LCD Soundsystem
A festinha privê que James Murphy e sua banda proporcionaram para os poucos presentes no Via Funchal, em novembro, foi o máximo. Pista deliciosa, disco-punk em seu melhor exemplo, finalização apoteótica com “New York, I Love You, But You’re Bringing Me Down”.

4º lugar: Scorpions
Nem a lotação claustrofóbica do Credicard Hall, nem o atraso de mais de meia hora, retiraram o posto dos Scorpions de quarto melhor show do ano. Mesmo com a idade avançada, os tiozinhos mostraram que ainda estão em plena forma, e arrebentaram com uma mistura de clássicos (“Hurricane 2001”, “Wind of Change” e outras) e sons do álbum novo, “Humanity Hour 1”.


3º lugar: Bjork
A inconfundível “esquimó” realizou um show lindo no último Tim Festival, e conquistou o terceiro lugar na minha lista. Mostrou uma potência vocal incrível (pra quem gosta do seu timbre estridente), estava acompanhada por instrumentos clássicos de sopro e ultramodernos, como o audio pad, além de um grupo de meninas instrumentistas islandesas. Efeitos visuais, cenários, tudo perfeito. Finalização com “Declare Independence” e chuva de papéis. Incrível!


2º lugar: Placebo
Sou suspeita para falar do Placebo, porque gosto muito. Neste ano, o baterista Steve Hewitt deixou o trio, uma baixa triste, mas parece que todos estão bem, não houve uma briga, somente vontade de seguir outros caminhos. Enfim, só sei que (EBA!) tive a oportunidade de vê-los ainda completos, em abril deste ano. Brian Molko, como sempre, provou que a vida junkie ainda não fez efeitos sobre sua voz, e o show foi o máximo, com músicas do álbum mais recente, “Meds”.

1º lugar: Arctic Monkeys
Os Arctic Monkeys fizeram não só o melhor show do Tim Festival, mas também o melhor do ano, na minha modesta opinião. Os rapazes são extremamente talentosos e imprimem personalidade em cada faixa. Músicas rápidas, bateria claramente influenciada pelo punk-rock, letras muito boas e pausas estratégicas nas músicas. Além disso, seu álbum mais recente, “Favourite Worst Nightmare”, também está entre os melhores do ano, e mostrou que o trabalho do grupo está se aprimorando cada vez mais.

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Este ano foi bem bacana em relação a shows e, ao que parece, o ano que vem promete.

Um excelente final de ano a todos e que 2008 seja fantasticamente musical!

A partir de hoje, me encontrem debaixo de algum coqueiro em Pratigi.

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Natal dos Desejos Neotix

Você está cansado de receber inúmeros votos de Boas Festas, Feliz Natal, Bom Ano Novo e que o bom velhinho blá, blá, blá?

Seus problemas acabaram!

Agora quem faz os desejos é você!

Envie pra Neotix tudo o que você sonha para o ano que vem! Você terá um espaço em nossa árvore e poderá voltar durante o ano todo para lembrar-se de correr atrás das promessas que fez.

Clique aqui!

terça-feira, dezembro 18, 2007

A era dos amigos secretos zicados acabou.

Adorei, Rô!

Nunca tive sorte em amigos secretos. Pelo contrário, sempre tive problemas. Desde que ganhei um porco de pelúcia horrível, na quinta série, recheado com bolinhas de isopor e com aspecto bem estranho, parece que o fantasma dos amigos secretos zicados pairou sobre mim.
No começo, achava que era coisa da minha cabeça.

Aí, no amigo secreto da família no ano retrasado (cujo valor do presente é de R$ 50,00), ganhei um colarzinho de biscuit que, segundo minha empregada, “custa R$ 1,99 no Largo Treze”. O problema não é só o valor, mas a decepção de ver que a pessoa que me tirou não teve a menor preocupação em encontrar algo bacana, que fosse a minha cara.

No ano passado, aqui na empresa, achei que isso iria acabar. Estávamos todos animados para a entrega dos presentes, uma turma pequena de pessoas que se conheciam bem, não tinha erro. Achei realmente que seria o primeiro presente legal que eu ganharia em um amigo secreto.

E foi, um presente muito legal. Ganhei um biquíni lindo, TAMANHO P. Hello! Olha a minha cara de quem usa ALGUMA COISA tamanho P! Bom, nem tudo estava perdido, eu poderia trocar, claro. E tentei ir até a loja, mas fui assaltada no meio do caminho e levaram tudo. Bolsa, agenda, livro. Ah sim, e o biquíni P.

Para este ano, já estava descrente que pudesse receber algo legal. Sexta-feira, um dia terrível, clientes atormentando a cabeça o dia todo, e de repente: “vamos entregar os presentes?” Um arrepio subiu pela espinha. Será que o dia poderia ficar pior?

Foi quando, com uma apresentação elogiosa, um dos meus chefes anunciou: tinha me tirado. Ao abrir o pacote, a boa surpresa: a biografia do Tim Maia e, de quebra, o “Back to Black” da Amy Winehouse. Fiquei pensando que Tim e Amy combinam super. Em todos os sentidos. Só sei que, assim que saíram do pacote, eles exorcizaram o fantasma que me rondava.


Foto: Anderson Mancini (o outro chefe)

terça-feira, dezembro 11, 2007

O show de Diana Krall aconteceu há mais de uma semana mas ainda carrego marcas...

Continuo descascando depois de passar mais de três horas sob um sol impiedoso no Parque Villa Lobos, em Pinheiros, naquele domingo sem nuvens nem tréguas.

De um modo geral, pode-se dizer que foi bacana, vai. Não conhecia o trabalho da Banda Mantiqueira, que faz versões instrumentais de grandes sucessos da música brasileira. Também conhecia só de nome a Traditional Jazz Band, e valeu a pena ter conhecido o bom trabalho daqueles senhores tão bem humorados. "Nós vamos cantar, e vocês vão ver a merda que vai sair", brincou um deles. O som estava muito baixo, e a grande área VIP fez com que os "pobres mortais" tivessem que assistir de muito longe às apresentações.

Só sei que a Traditional entrou às 10h, a Banda Mantiqueira às 11h e a tão esperada canadense foi entrar somente ao meio-dia. As pessoas protegiam-se com os bonés estrategicamente distribuídos pela Telefonica, num mar de cabeças verde-limão, quando a loira sentou-se ao piano e entonou “I Love Being Here With You”. "Aumenta o som!", eu pensava, em vão.

Entre uma música e outra, Diana declarava amor ao Brasil, e cheguei a ficar com raiva quando falou: "em meu país é muito frio, então pra mim é maravilhoso tocar com este belo sol." Belo sol porque você está na sombra, né bonitona?

Infelizmente, o parque não permite a venda de alimentos e bebidas em seu interior, ou seja, as mais de 15 mil pessoas presentes tiveram que se organizar em filas para receber os copinhos de água distribuídos pela Sabesp. Condições precárias, som baixo, e infelizmente o show de Diana Krall não foi o que esperava.

Não por ela, que tem uma voz belíssima e estava acompanhada por músicos muito competentes (destaque para a guitarra, perfeita). Mas pelo contexto, insuportável, que só consegui aguentar até “I’ve Got You Under My Skin”. Fica pra próxima, Diana.

Foto: Globo.com

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Futuro do Presente

Uma visita ao Itaú Cultural é garantia de programa no mínimo interessante.
Até 10 de fevereiro, acontece a exposição "Futuro do Presente", instalada em três andares do prédio. Com curadoria de Agnaldo Farias e Cristiana Tejo, a mostra reúne obras que remetem à noção de futuro, com um caráter por vezes lúdico, outras crítico, ou ainda com o objetivo de estimular os sentidos dos visitantes.
Dentre as diversas instalações do local, seguem alguns destaques:

"Centrípetas", de Mariana Manhães
Criado neste mesmo ano, o aparelho assemelha-se a dois avestruzes robóticos, que se mexem e emitem sons. Pode parecer engraçado, e é mesmo. Esta engenhoca é feita de membros mecânicos, fios e monitores LCD exibindo vasos que giram, falam, inspiram e expiram água. Em determinados momentos, eles perdem a compostura e começam a gritar, simultaneamente aos chacoalhos de toda a estrutura. Bem divertido.

"Falante", de Romano
Esta performance, exibida em uma tela de plasma, mostra o artista percorrendo algumas das principais ruas de São Paulo com uma mochila presa às costas. Esta possui uma caixa de som acoplada, e o artista filma a reação das pessoas nas ruas diante da frase "Não! Não preste atenção!" entoada de diversos modos. Impossível não prestar atenção.

"Elemento desaparecendo/Elemento desaparecido", de Cildo Meireles
Preocupado com o futuro do planeta, o artista projetou um picolé feito somente com água mineral. No espaço, há um freezer com picolés de diferentes cores, todos com o nome "elemento desaparecendo/elemento desaparecido". Em alguns pontos da cidade, estão sendo distribuídos picolés ao público, e a idéia é chamar a atenção para a escassez de água por meio da efemeridade do gelo.

"Jardim Suspenso", de Chiara Banfi
A instalação é composta por duas mesas de aço em que foram plantadas erva-cidreira e citronela. As mesas possuem um orifício central, em que o visitante pode introduzir a cabeça, estabelecendo experiências visuais e olfativas interessantes.

Na verdade, fui ao Itaú Cultural para conhecer o trabalho do fotógrafo paraense Alexandre Sequeira (indicação de Karina Bueno), que participou do projeto "Portfólio". Suas imagens representavam os personagens de um conto da escritora carioca Bruna Beber, sobre a vida em uma pequena vila no sertão nordestino, e foram impressas em tecidos inusitados, como toalhas de mesa floridas, redes e lençóis.

Infelizmente, a exposição fotográfica terminou em 25 de novembro, mas fica a dica para a mostra "Futuro do Presente" e, para quem quiser conhecer o projeto "Portfólio", será exposto até o dia 20 de janeiro o trabalho de outro fotógrafo, o paulistano José Frota.

Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149 (Próxima a estação Brigadeiro do metrô)
De terça a sexta, das 10 às 21h
Sábados, domingos e feriados, das 10 às 19h
Entrada gratuita

segunda-feira, novembro 19, 2007

LCD Soundsystem

O norte-americano James Murphy (foto) é um dos ícones da mistura rock-eletrônica que surgiu com força no início dos anos 2000. Além de ser cantor, multiinstrumentista, produtor e dono da gravadora DFA Records, Murphy é o grande nome por trás do sucesso do grupo LCD Soundsystem, representante do gênero, que tocou na semana passada em São Paulo.

A casa de shows Via Funchal estava praticamente vazia quando subiu ao palco o DJ e produtor Axel Willner, responsável pelo live de techno The Field, que abriria para o grupo. Um globo espelhado era o único elemento cenográfico, e anunciava que a noite seria de festa.

Willner consegue aliar as batidas secas do techno à melodias emocionantes, que preenchem o ambiente, e com isso confere uma linguagem muito interessante às músicas. O estilo não faz o meu gosto, mas não posso deixar de reconhecer a qualidade musical do sueco.

Com uma hora de apresentação, The Field recebeu os aplausos de uma pista modesta, porém mais numerosa. O Via Funchal não preenchera sequer 50% de sua capacidade, o que foi bom para dançar e circular com tranquilidade pela pista.

Em pouco tempo, o LCD Soundsystem começou a se posicionar. O grupo possui grandes talentos em sua composição, entre eles Nancy Whang, que além de cantar comanda os sintetizadores e teclados, e o guitarrista e percussionista Al Doyle, que também integra o Hot Chip.

Com uma disposição estrategicamente diferenciada (bateria na parte da frente, ao lado do vocalista, que conferiu mais força e destaque para as batidas punk), a banda começou o show às 23h15. Vestindo uma camiseta com as cores do arco-íris - a mesma que usou no Skol Beats do ano passado - James Murphy mostrou que sua voz não é das mais afinadas, mas as técnicas que trabalha na hora de cantar, juntamente com sua presença de palco e a harmonia arquitetada entre os membros da banda, proporcionou um dos melhores shows do ano.

Grande parte das músicas apresentadas compõem o último álbum do grupo, "Sound of Silver". A música de abertura, "Us v Them", foi uma delas, assim como a seqüência "Time To Get Away", "North American Scum" e "All My Friends", que teve ótima recepção do público. Mesmo assim, o LCD não deixou de tocar outros sucessos que marcaram sua carreira. "Daft Punk Is Playing At My House" e "Yeah", tocada no bis, foram alguns dos clássicos hits da banda.

Algumas faixas lembram os pioneiros do Kraftwerk, outras mostram clara influência do New Order, mas o importante é que o grupo imprime personalidade em cada canção. Murphy cantava de olhos fechados, com emoção exacerbada, e chegou a tocar alguns instrumentos de percussão para dar ainda mais força à bateria de Pat Mahoney.

Para acalmar os ânimos depois de quase uma hora e meia de apresentação, o grupo fechou com a belíssima "New York, I Love You, But You´re Bringing Me Down", música que possui altos e baixos até culminar em um final emocionante.

Foto: PH Schneider

quinta-feira, novembro 08, 2007

Fora de órbita

Consegui dois ingressos pro Festival Planeta Terra a R$ 20,00 e não vou por falta de companhia.

Ufa, desabafei.

Agora vou comer um chocolate gigante pra ver se passa a tristeza.

segunda-feira, novembro 05, 2007

Sinal do que na verdade está mais que certo

Toda vez que eu viajo acontece uma desgraça em São Paulo. Ok, isso não pode ser referência porque elas acontecem diariamente por aqui. Mas essas grandes, voltando assim de viagem, fazem pensar.
Nas férias, em julho, saí de 42ºC e um céu maravilhoso pra pousar ao lado de um edifício chamuscado em que batera um avião. 10ºC, em pleno meio-dia. O céu acinzentado me gritava "sai daqui". A dor de ter que voltar, de passar todos os dias em frente aos escombros, dor de pensar que eu poderia estar passando em frente ao prédio quando o avião bateu, que ele caísse para o lado oposto, bem em cima da minha casa.
Agora, voltando de um feriado-delícia em Monsenhor, ainda rindo de 'causos' engraçados que escutei por lá, vi que um avião caiu ao lado do Campo de Marte. Sim! Lá onde a melhor amiga mora.
O balde de água fria veio junto com a chuva fina que não parou de cair. O céu mais cinza do que nunca anunciou "vai embora. Tá fazendo o que aqui ainda?" E a nuvem negra vez mais perto.

quinta-feira, novembro 01, 2007

É PENTA!

Desculpa, somos os primeiros pentacampeões brasileiros.
Somos a equipe a vencer o campeonato com maior antecedência.
O único time brasileiro a conquistar o mundial três vezes.
Pra ficar perfeito, só falta o Corinthians cair.
AFUNDA!

quarta-feira, outubro 31, 2007

Tiiiim Festival!

O Tim Festival, realizado no último domingo no Anhembi, começou cedo pra mim. Por volta das 16h30, horário em que abriram a entrada de imprensa, lá estávamos nós. O local recebia as primeiras pessoas que, animadas, corriam para garantir seu lugar na grade. Tsc tsc tsc. Horas mais tarde (MUITAS horas mais tarde), eu as veria vermelhas de sol, com o cansaço estampado no rosto, esmagadas contra a grade e, em alguns casos, carregadas por bombeiros até o posto médico.

O evento começou com atraso - que se prolongaria como uma bola de neve de show em show. O Spank Rock, primeiro grupo a se apresentar, mostrou batidas e vocais de hip hop, unindo-os a percussionistas. “Aquele ali é que é o Olodum?", escutei de um amigo bem-humorado. Isso representou a reação do público em geral. Não se entendia muito bem o que o Spank Rock fazia lá. Pô, vem fazer percussão no Brasil? O Otto, da área VIP, que também é percussionista, devia estar dando risada.

Em seguida, entrou o Hot Chip, do qual eu conhecia apenas o hit “Over and Over”. Confesso que me surpreendi com a apresentação, apesar da pane no sistema de som que interrompeu o show por quase meia hora. O vocalista, Alexis Taylor, é daqueles caras que você olha e não dá nada. Baixinho, de óculos, carinha de nerd, o britânico surpreende quando começa a cantar. Uma voz limpa, afinadíssima, gostosa de ouvir. Gostei.

Mas era a Björk que eu estava esperando. Com um cenário formado por bandeiras fluorescentes com motivos orientais, o show da islandesa foi produzido para se ouvir e se ver. Logo entrou uma orquestra de garotas islandesas, com instrumentos de sopro e roupas coloridas. Ouviram-se os primeiros gritos, era ela.

Trajando um vestido com as cores do arco-íris e um chapéu exótico, Björk iniciou a apresentação com “Earth Intruders”, com a qual abre também seu último CD, “Volta”. A partir de então, foi uma mistura de músicas novas e grandes sucessos, como “Hyperballad” e “Hunter”. O Anhembi veio abaixo.

Com efeitos especiais, chuva de papéis picados e o potente e agudo vocal da mulher que parece menina (está para completar 42 anos), o show foi lindo, e uniu instrumentos clássicos e as mais modernas tecnologias. Foi utilizado inclusive um áudio pad, espécie de mesa em que são coordenados efeitos musicais com o toque da mão. Björk finalizou com “Declare Independence”, e anunciou em seu inglês mais que peculiar: “I’m very happy to be in Brasil”, agradecendo com um “opigato” charmosérrimo.

Pouco depois, entrou a hollywoodiana Juliette Lewis e a banda The Licks. Já havia escutado bastante coisa dela, e estava ansiosa para vê-la ao vivo. Desde o momento em que subiu no palco, com a pena na cabeça característica, parece que baixou um santo em Juliette, sem brincadeira. A moça se jogou no chão, se enrolou com a bandeira do Brasil, se debateu e gritou a cada música. Mostrou que, para fazer sucesso, é preciso atitude, antes até de uma boa voz (que ela não tem).

Com uma apresentação totalmente clichê, porém de qualidade, Juliette and the Licks agradaram, com músicas já conhecidas como “Sticky Honey” e “You’re Speaking my Language.” Peguei uma simpatia grande pela atriz, que é muito carismática.

Juro que, cansada, após o show, cheguei a pensar: “ainda tem o Arctic Monkeys. Quero logo o the Killers!” Me arrependi de pensar assim, acho que subestimei os meninos. O Arctic Monkeys fez, sem dúvida, o melhor show do festival.

Com batidas e vocais rápidos, o grupo conseguiu demonstrar criatividade e inovação. Suas músicas têm pausas estratégicas, voltam no contra-tempo, e fogem totalmente dos padrões, mesmo utilizando os instrumentos básicos guitarra + baixo + bateria.

Com canções como “Mardy Bum”, “Do Me a Favour” e “Fake Tales of San Francisco”, o Arctic Monkeys provocou histeria nos mais de 20 mil presentes. Eu era um deles.

Completamente tocada pelo show, e muito cansada (já que terminou por volta das 3 da manhã, horário que eu achei que fosse terminar o festival), aguardei sem paciência o show do The Killers, último da noite. O cenário, totalmente elaborado, com um tecido vermelho de veludo ao fundo, onde penduraram um letreiro luminoso escrito “Sam’s Town”, tinha muitas flores espalhadas e luzes que envolviam desde o órgão de Brandon Flowers, até os sintetizadores e a bateria.

Uma hora (e muito menos paciência) depois, os integrantes do Killers entraram. Brandon, com seu habitual bigodinho, demonstrou um carisma e um controle do público incríveis, além de ter uma voz linda.

Mesmo animada, principalmente com os sucessos “Somebody Told Me”, “Smile Like You Mean It” e “Mr. Brightside” (que escutei do estacionamento, porque não tinha mais pernas), o show do Killers não surpreendeu. Eles cumpriram com seu papel, fizeram uma apresentação bacana, mas a impressão que eu tive era a de que nada poderia ter sido melhor do que o show anterior.

Saldo final: palmas para a Björk, com seu show impecável, e palmas para o Arctic Monkeys, que mostrou que músicas criativas e profissionalismo são mais importantes que se debater no palco ou armar um cenário espalhafatoso.

Foto: PH Schneider

terça-feira, outubro 30, 2007

Girl Talk just wanna have fun

A noite dedicada à música eletrônica no Tim Festival, batizada "Tim Festa", aconteceu na última sexta-feira.

O local escolhido foi a casa noturna gay The Week, que é enorme e muito bem decorada. Com piscina, deck, duas pistas, quatro bares e muitas luzes, a casa foi bem escolhida para a realização do evento.

As atrações não eram das mais chamativas, e por isso o público foi menor do que o esperado. A pista principal foi aberta pelo britânico Sinden, que faz dupla com Hervè no Count of Monte Cristal. Não sei se os participantes estavam muito preocupados com isso, mas Sinden não ia tocar sozinho, e acabou tocando. A produção não avisou, mas Hervè nem apareceu. Sinden abriu com uma mistura de funk carioca com batidas do house, e desenrolou sua apresentação com qualidade, mesclando tecno, house e hip hop.

Enquanto isso, na outra pista, Alexandre Herchcovitch e Johnny Luxo (alguém sabia que eles tocavam?) apresentaram um back to back de eletro e pop dos anos 90. Só que ninguém ficou sabendo que estava rolando esta outra pista (mais uma falha da organização, que deveria ter entregue uma programação com o line-up), então os dois tocaram para umas duas ou três pessoas. Sem exagero.

Depois deles, o alemão Daniel Haaksman mostrou por que é o maior disseminador do funk carioca na Europa (lançou dois álbuns dedicados ao estilo) e tocou todo tipo de ritmo africano. Muito groove, viradas de qualidade, e mais uma vez para meia dúzia de pessoas que sem querer passaram por ali.

Na pista principal, após Sinden, veio a apresentação mais esperada da noite: o norte-americano Gregg Gillis (foto), com seu projeto Girl Talk. O produtor utiliza uma técnica chamada mash-up, que consiste em colar diferentes músicas para formar uma só. E ele eleva este conceito ao máximo, pois chega a utilizar até vinte músicas em uma faixa. Mistura Nirvana, Avril Lavigne, Beyoncée e une tudo isso a batidas eletrônicas. O resultado é interessante.

Mesmo sem realizar estas mixagens ao vivo, Gregg fez muito sucesso entre os presentes por seu carisma, digamos, exagerado. Durante sua apresentação - que fez questão de realizar no chão, e não no palco, como os outros - o artista pulou, dançou, tirou a camisa e literalmente foi pra galera. Na última música, levou o microfone para o meio da pista, onde se jogou no chão, fez flexões e chegou a virar uma lata de cerveja em sua própria cabeça. Completamente maluco.

Depois de toda a fanfarrice, ficou pequeno pro norueguês Lindström, que, por sua formação musical, trouxe melodias mais sérias e estilo diferenciado. Com o ponto positivo de tocar todos os instrumentos presentes em suas músicas, Lindström agradou. Para finalizar a pista principal, a dupla de tecno Tok Tok apresentou seu live act. Detalhe: a dupla não havia sido anunciada no site do evento.

As falhas na organização deixaram os jornalistas um pouco confusos. Mas o saldo foi positivo: cobertura em tempo real e três inserções no Uol música. Orgulhinho!

Foto: PH Schneider

quinta-feira, outubro 18, 2007

E a seleção fez bonito, finalmente.

Com o perdão da expressão, ele é muito foda. Melhor do mundo!

Na partida de ontem fiquei profundamente orgulhosa do futebol desses meninos.

O primeiro tempo foi morno e, apesar do gol de Vágner Love (em seu melhor jogo pela seleção, pelo menos que eu me lembre), o time fez lembrar sua última e medíocre partida contra a Colômbia, em que empatou sem gols, na semana passada. Poxa, com Ronaldinho Gaúcho e Kaká, dois candidatos à vaga de melhor do mundo pela FIFA? No Maraca, porra? Muito recuo de bola, pouca garra. Chegou a me dar sono (ok, isso não é difícil).

Mas no segundo tempo, parece que o pessoal acordou. E acordou bonito, porque deu show. E eu acordei também e não dormi até o final. Com talento e criatividade, os meninos mostraram-se bem mais ofensivos e tiveram muitas chances de gol.

Ronaldinho Gaúcho esticou o pé para desviar a bola, que entrou no cantinho, ai! Quase pra fora. Foi apenas o segundo.

Pouco depois, Kaká chutou de fora da área e marcou o gol mais bonito que eu já o vi fazer. Na caixa! Ah, bons tempos em que jogava no tricolor (suspiro). Robinho pulou em cima dele pra comemorar, fizeram o típico "montinho". Achei graça, esses meninos se divertem mesmo.

Eles se divertem, mas sabem brincar. Aos gritos de "olé" dos mais de 85 mil torcedores presentes, Robinho criou um novo drible misturando outros vários, conseguiu passar a bola por um espaço mínimo entre as pernas do zagueiro equatoriano e a linha de fundo, passou por dois e cruzou para Elano marcar o quarto. Delírio.

O modesto Kaká ainda tentou uma última vez, e nem comemorou, porque achou que chutara mal. Mas não contava com o frango deprimente do goleiro. Brasil 5, Equador o. E eu emocionada.

Bóra alcançar a Argentina agora!
Foto de Flávio Florido/UOL

segunda-feira, outubro 15, 2007

A (qualidade de) vida na roça

- Você já foi lambida por um bezerro?
- Não que eu me lembre.
- Então vem.

E me levou pra apanhar amoras ao lado de onde ficam as vacas. A amoreira estava carregadinha, os pequenos frutos caindo ao chão de tão doces. Delícia. Mãos e bocas vermelhos da tinta da fruta, caminhamos rumo aos bezerrinhos curiosos que se aproximaram. "Faz carinho nele." E então o bezerro mais bonitinho da região achou que poderia mamar em meus dedos. E senti na mão, pela primeira vez, a língua áspera que esses ruminantes têm. Eita, nem parece que tem raiz caipira, sô!

- Gosta de jaboticaba?
- Muito.
- Então vem.

Mas os passarinhos tinham chegado antes, e nos deixaram poucas unidades daquela bolinha preta e adocicada. Mesmo assim, deu pra lembrar bem da infância, quando pegávamos bacias e bacias de jaboticaba na casa de minha tia em Minas.

- Já pegou um carneirinho no colo?
- Não.
- Então vem.

E fui conhecer os reprodutores, as matrizes e seus filhotes. Engraçado como, ao vivo, as ovelhas realmente parecem ser bichos burros! E gritam, nossa! Precisa ver. Escolhi um peludinho, coisa mais fofa, as orelhas ainda maiores do que a cabeça, e peguei no colo. Me senti como a Felícia amassando um de seus bichinhos! Aí brinquei no chão com os dois filas e com a São Bernardo, até cansar.

- Isso é qualidade de vida - disse o tio.

Depois cheguei a São Paulo e não vi nem um passarinho. Mas recebi um vídeo engraçado:


Animais, por aqui, só no YouTube mesmo.

quinta-feira, outubro 11, 2007

EU VOU NO TIM FESTIVAL

E não quero nem saber se a cabeça dói há um mês, nem pensar que demoro duas horas pra voltar pra casa, nem me preocupar com as milhares de coisas minhas e dos outros que eu sempre me preocupo mesmo sem querer.

O que eu sei é que vou ver a Björk!
Ainda mais agora que viciei em "Volta" há dias...

E vou ver The Killers, Arctic Monkeys e Juliette and the Licks.
Fora os brindes de sexta na The Week.

AMO.

terça-feira, outubro 09, 2007

Who's gonna drive you home tonight?

Era uma segunda-feira chata e cinza como muitas outras. Acordei, tomei meu café e fui até o ponto, esperar o ônibus que me deixa na porta do prédio em que trabalho. Desde que a empresa mudou-se, eu estava satisfeita com este ônibus pois, apesar de pegá-lo cheio, não precisava pegar outro, era só ele e pronto. Na ida e na volta.

Pois então, mas nesta segunda foi diferente. Esperei um pouco no ponto, até que ouvi dizer que aquela linha não existe mais. Foi então que apelei ao plano B, o outro ônibus, e andei mais uns quarteirões até o ponto em que ele costuma passar.

Foram mais de trinta minutos de espera, perguntando às pessoas se ele ainda passava ali, sempre com resposta positiva. Aí resolvi perguntar a um motorista de ônibus, que avisou: "essa empresa foi fechada, dona."

Ótimo, e eu ali esperando. Belo acontecimento pra uma segunda de manhã, né? Então fui até o metrô, partindo para o plano C. Nem preciso dizer que a cabeça começou a doer nesse meio-tempo. A lotação, que fez juz ao seu nome, saiu do ponto final em menos de 5 minutos, e em meia hora estava no trabalho.

Até aí, sem problemas. A partir de amanhã, já vou direto ao metrô e pego a lotação. Só busquei saber onde poderia pegá-la na volta. Então, saí do trabalho às 18 em ponto, pra ver que horas conseguiria chegar em casa.

Sentei-me na lotação às 18h30, o tempo de andar até o ponto e esperá-la chegar. A única coisa que pensei foi: "espero que ela não pegue a Berrini." Claro, claro que ela entrou à esquerda, sentido Berrini.

Eram 19h00 quando resolvi saltar do veículo. Eu ainda não havia andado sequer dois quarteirões, e estava ridiculamente em frente ao mesmo prédio. Farol abria, fechava. E o ônibus nada. Nem uma revista pra acompanhar, o titio Marco Antonio mandando Led Zeppelin na Kiss... quer saber? Resolvi fazer o trajeto mais longo, porém com menos trânsito. Era só pegar um até a Vieira de Moraes, e outro até minha casa.

Sim, isso se o bendito Estação da Luz não tivesse demorado mais 20 minutos pra passar. Aí fui pro PH, porque o ônibus pra casa dele passou antes do meu. Cheguei às 20h00.

Eu concordo que, depois que se soltou a roda daquele ônibus e matou uma pessoa, os veículos tenham que ser retirados para revisão. Só que, diante disso, acabar com linhas de ônibus sem sequer avisar, e deixar centenas de pessoas sem opção de transporte?

É pedir demais querer chegar em casa depois de um dia de trabalho?

quarta-feira, outubro 03, 2007

Maria me levou pro céu

A menina Céu é como a gente, olhando assim. Mas quando sobe no palco deixa aflorar toda a sua personalidade, que não é fraca, e o seu talento, que não é pouco.

Ela é muito mais do que um rosto bonito e uma voz afinada. Transparece sensualidade e meiguice ao mesmo tempo, num equilíbrio apaixonante. Sabe trabalhar muito bem o seu peculiar tom de voz. Seu carisma de menina tímida encanta.

O show, pra mim, foi perfeito. Acompanhada por uma talentosa banda, com percussão, bateria, baixo, guitarra, teclado e pickups, a paulista cantou todas as músicas que eu queria ouvir, e mais algumas.

Passou pelas já conhecidas canções de seu CD “Céu”, arriscando uma versão da emocionante “Valsa pra Biu Roque” com acordeão, no lugar do bandolim que a acompanha no álbum.

Fica difícil escolher um ponto alto do show, porque todas as músicas foram lindas e lindamente cantadas e tocadas. Mas não posso negar que o arrepio foi maior ao escutar “O ronco da cuíca”, de João Bosco, interpretada com muito sentimento.

A sensação que tive com o show da Céu é que ela segue seus instintos para compor as músicas. Ela não está ligada a um estilo, passeia pelo jazz, reggae, samba e até hip hop com muita liberdade, e parece não estar preocupada com rótulos. Ela é o que é, gostem ou não, e essa naturalidade cativa.

Estou em estado de graça até agora. Aliás, literalmente, agradeço à Lygia Roncel pela graça alcançada! :)

terça-feira, outubro 02, 2007

No mundo todo, e agora em São Paulo

Fazia um tempo que estava com vontade de conhecer o Club Pacha. Com unidades em diversos países do mundo, como Espanha, Egito e até Marrocos, a boate é conhecida pela estrutura diferenciada e pela boa qualidade do som.

A melhor oportunidade para conhecê-la - já que os preços de entrada são abusivos - foi o coquetel oferecido pela Pioneer, na última sexta, 28 de setembro. Os convidados chegavam um pouco antes, havia bebida e pizza à vontade e, depois de aberta ao público, a casa receberia o lendário Andy Fletcher, tecladista e co-fundador do Depeche Mode (grupo da década de 70 que ajudou a introduzir sonoridades eletrônicas no pop), que faria um Dj set.

Não se pode negar que a casa é realmente bonita. Um galpão com pé-direito bem alto, lustres coloridos e duas pistas de dança, com diversos telões. Bem estruturado, o banheiro é grande e a todo momento recebe um trato da equipe de limpeza.

Apesar de não poder beber o bom champagne francês Mumm (estava tomando remédio), consegui aproveitar bastante o som do Monsters at Work, que tocou enquanto rolava o coquetel. Gente bonita, aparentemente civilizada. Até que abriram-se os portões e a legião de patricinhas e playboys mal educados, que pagavam de R$ 80,00 a R$ 2.000,00 pela entrada, coneçaram a invadir o recinto.

Você pagaria R$ 2.000,00 pra ficar naquela área ali de cima?


Carlo Dall'anese abriu para Andy, tocando tech-house. Decaiu um pouco no decorrer da sua apresentação, mas mesmo assim conseguiu manter a pista animada. Quando Fletcher entrou, o público vibrava! Mesmo que, com certeza, a grande maioria não saiba quem ele é, muito menos o que representa para a música eletrônica.

O senhor, que aparenta uns 50 anos, comandou durante algumas horas dois CDJs e duas pickups, e mostrou habilidade no manuseio dos aparelhos. Confesso que fiquei um pouco decepcionada com suas viradas, algumas vezes grotescas, mas a seleção das músicas foi boa, alguns remixes do Depeche Mode... li que ele fechou com Enjoy the Silence, a minha preferida, só que não fiquei até o final pra conferir. A sensação claustrofóbica estava forte, muitas e muitas pessoas não se contentavam em dançar, queriam era ficar andando.

Pra completar, a bebida na casa é caríssima. Ao final do coquetel, uma água custava R$ 6,00 e, uma cerveja em lata, R$ 9,00. Não vou nem contar o valor do combo vodca + energético, pra não chocar. Ainda bem que eu não estava bebendo!

quarta-feira, setembro 19, 2007

Top 3 pérolas infantis

Em terceiro lugar: meu irmão, então com 2 anos e meio, vendo minha mãe sair de casa com uma barriga enorme e voltando com um bebê no colo:

- Mãe, onde fica o seu zíper?

Em segundo lugar: minhas primas, então com 6 e 8 anos, me contando as novidades:

- Sabe Mari, agora nós estamos fazendo aula de compitador!
- Não seja burra, Isadora, não é compitador. É MICRO compitador!

E em primeiríssimo lugar: o filho do caseiro, jogando bola com os meninos, e tomando uma bolada na barriga:

- Ai, meu imbigo!
- Não é com I menino, é com U!
- Ai, meu IMBUGO!

terça-feira, setembro 18, 2007

A fita cassete paralela

Alice era uma garota muito esperta, até demais para a sua idade. Sempre que olhava pra ela, estava quieta, observando, pra dali a pouco soltar uma de suas célebres perguntas. Outro dia lançou: "mamãe, mas por que sessão de cinema é com dois esses e seção de supermercado é com cedilha?"

E eu, que não gosto de responder qualquer coisa, ficava pensando na melhor maneira de responder àquelas questões que nem eu mesma sabia solucionar.

Um dia, Alice me pediu que a inscrevesse em um curso de catecismo. Aregalou seus olhinhos cor de mel e disse: "Quero fazer a primeira comunhão, mamãe, assim como a Celeste da minha escola". Eu não a batizei e nunca a forcei a nada, então resolvi levá-la.


***

Desde que mamãe me colocou na catequese, aprendi muita coisa. Hoje, a professora me disse que Maria engravidou sem ter tido nenhum tipo de relação com homem, e dela nasceu Jesus. Eu não entendi nada, e perguntei se haveria alguma possibilidade de eu ter um neném assim, igual à Maria, como num passe de mágica. A turma toda riu, mas a professora não. E ela ficou brava, eu acho, porque pegou uma varinha e me bateu nas costas da mão.

Eu só sei que, depois que aprendi a rezar o pai-nosso, ele não sai da minha cabeça. Primeiro era o Pai, o Filho e o Espirito Santo, pra depois virar a oração inteira. Sei lá, a sensação que tenho é a de que há duas fitas cassete rodando dentro da minha mente. Antes tinha uma só, que ia rodando os pensamentos que se passavam pela minha cabeça, as coisas que eu lia e escutava, até aquelas músicas que de vez em quando não desgrudam, mas agora são duas.

Em uma delas, fica passando o pai-nosso, e na outra, as coisas normais. Confesso que isso me incomoda, sabe. Não que eu não goste da oração, muito pelo contrário! Até acho que ela é bem simpática. Só que, tem horas, que ela começa a tocar mais alto do que a fita original, e eu não consigo me concentrar no que estou fazendo. Poxa, gosto tanto de ler, mas muitas vezes não consigo por causa desta fita que surgiu e ficou.

Deve haver uma forma de tirá-la de dentro da minha mente. Talvez como num passe de mágica, assim como foi a gravidez de Maria! É, preciso pensar em uma forma de desligar essa fita. Deve haver um pause que seja, quem sabe até um stop. Só o que eu não posso é perguntar isso pra professora, vai que levo mais uma varinhada na mão. Bom, tentemos a mamãe...

quinta-feira, agosto 30, 2007

Eu coração Gabo

"Ah, de volta a Macondo. Já estava com saudades." Foi o que senti ao começar a ler "A revoada", de Gabriel García Márquez. Como se estivesse visitando novamente uma daquelas cidadezinhas de Minas Gerais, que parecem paradas no tempo, mas que deixam uma sensação gostosa na gente quando se vai embora.

Publicado anteriormente no Brasil como "O enterro do diabo", o romance de estréia do escritor conta pela primeira vez a história de Macondo, povoado que ficou conhecido com "Cem anos de solidão", anos depois.

É a narrativa do enterro de um médico que chegara ao vilarejo vinte e cinco anos antes, e em cujos olhos "duros e amarelados" não se podia ver alma nem sentimento. O homem, que tinha hábitos estranhos, era odiado por todo o povo, com exceção do coronel - do qual não se diz o nome - que tem por ele compaixão e respeito.

São três narradores: o coronel, sua filha Isabel e seu neto, que, paralelamente à descrição da cena do enterro, contam um pouco de suas vidas e dos anos anteriores naquela cidade que parece parada no tempo. A utilização de linguagens e termos diferentes ajuda o leitor a não se perder entre as personagens, que se alternam na narrativa.

O que mais me encantou neste livro não foi a história em si, que inclusive, já demonstrava a vocação de García Márquez para tratar de personagens solitários. O mais incrível, pra mim, foi pensar que, aos 22 anos, Gabo já tinha a capacidade de encher seus leitores de prazer com descrições ricas em detalhes e composições de frases tão perfeitas:

Do menino:
"O calor é sufocante na sala fechada. Ouve-se o zumbido do sol nas ruas, nada mais. O ar é parado, concreto; tem-se a impressão de que se poderia cortá-lo com uma lâmina de aço. Na sala onde colocaram o cadáver sente-se a presença de baús, mas não os vejo em nenhuma parte. Há uma rede num canto, com um dos punhos presos no armador. Um forte cheiro de restos. E creio que as coisas arruinadas e quase desfeitas que nos rodeiam têm o aspecto das coisas que devem cheirar a restos, mesmo que tenham outro cheiro."

De Isabel:
"Por esse motivo também é que eu deveria ter deixado o menino em casa; para não comprometê-lo nessa confabulação que agora se encarniçará em torno de nós como o fez o doutor durante dez anos. O menino deveria permanecer à margem desse compromisso. Nem ao menos sabe por que está aqui, por que o trouxemos a este quarto cheio de escombros. Permanece silencioso, perplexo, como se esperasse que alguém lhe explicasse o significado de tudo isso; como se aguardasse, sentado, balançando as pernas e com as mãos apoiadas na cadeira, que alguém lhe decifre esse espantoso enigma. Quero ficar segura de que ninguém o fará; de que ninguém abrirá esta porta invisível que o impede de ir além do alcance dos seus sentidos. Várias vezes já me olhou e eu sei que me vê estranha, desconhecida, com este vestido fechado e este chapéu antigo que pus para não ser identificada nem mesmo pelos meus próprios pressentimentos."

Do Coronel:
"Poucos dias depois, ele voltaria para sempre da barbearia e se fecharia no quarto. Naquela última noite, porém, no corredor, uma das mais cálidas e densas de que me recordo, ele mostrou-se compreensivo como em poucas ocasiões. A única coisa que parecia viver em meio àquele imenso forno era o surdo revérbero dos grilos excitados pela sede da natureza, e a minúscula, insignificante e no entanto desmedida atividade do alecrim e do nardo, ardendo no centro da hora deserta. Ambos ficamos calados um instante, suando essa substância gorda e viscosa que não é suor mas a baba solta da matéria viva em decomposição."

E, novamente, de Isabel:
"- E como vai você com o negócio? - disse. Meme sorriu. Seu sorriso era triste e taciturno, como se não fosse o resultado de um sentimento atual, mas como se o tivesse guardado na gaveta e só tirasse nos momentos indispensáveis, mas usando-o sem qualquer propriedade, como se o uso pouco freqüente do sorriso lhe houvesse feito esquecer a maneira normal de utilizá-lo."

terça-feira, agosto 21, 2007

Magia azul


Partiram na Hilux de Marcelo rumo ao passeio que tanto esperavam. Iria custar-lhes um pouco caro, mas certamente valeria a pena. Além do mais, Marcelo e sua namorada Monique estavam para ter um bebê ("tá pra nascer o bacurizinho", disse o guia), e nada melhor do que ocupá-lo com bastante trabalho para que conseguisse arrecadar, durante a alta temporada, um pouco de dinheiro para sustentar seu primeiro filho com segurança.

O casal de São Paulo, que compunha o grupo, havia conhecido os companheiros Jobert e Galdino (de São Luiz), dois dias antes, durante um passeio pelas cachoeiras de São Romão e Prata, e já havia feito um outro passeio no dia anterior, à incrível cachoeira da Pedra Caída. Portanto, naquele terceiro dia, sentiam-se à vontade para conversar sobre os mais diversos assuntos.

Não se sabe como, nem quando, mas o engraçadíssimo Galdino de repente ficou sério e começou a falar de espiritismo. Disse que enxergava vultos, espíritos, e algumas vezes chegava a ter premonições. A garota, que também acreditava na existência de um plano espiritual, embarcou na conversa e passou a escutar com atenção cada aventura contada pelo maranhense.

De repente, o biólogo anunciou: "vejo uma pedra bem alta, com uma luz incidente, e um lindíssimo lago azul. Acima do lago, entre as pedras, vejo três entidades, são guardiões da floresta. Mas fiquem tranquilos, eles não precisam de oração, e são do bem."
Duas horas e meia depois, pararam o carro no limite da estrada de areia e desceram, para caminhar mais dois quilômetros rumo ao Encanto Azul - que prometia ser o mais belo entre os belos lugares para se conhecer na Chapada das Mesas. O sol forte castigava a pele, mas os ecoturistas sabiam que valeria a pena.

Os caminhos de areia seca e árvores baixas aos poucos foi tornando-se fechado, as árvores aumentaram de tamanho e a presença dos buritis anunciava a presença de água. "Estamos próximos", o grupo pensava. Que nada. Ainda teriam uma trilha por entre corredeiras de água, entre pedras e mata fechada, com direito a uma movimentação estranha que, segundo Marcelo, era um filhote de jacaré.

Desde o início da caminhada pela água, os viajantes sentiram uma energia muito forte, como se o lugar possuísse realmente algo místico. Sensação que explodiu de tão forte ao adentrarem, finalmente, o Encanto Azul. Corações acelerados e pernas misteriosamente tremendo.

O forte cheiro de amônia, proveniente da urina dos morcegos que habitam aquela caverna, dava um ar ainda mais selvagem ao local, praticamente intocado pelo homem. "Estamos na casa dos animais", a garota pensou, ao andar com cautela entre uma enorme teia de aranha.

A água, límpida e azul como jamais tinham visto, brilhava aos reflexos do sol do meio-dia. "É o momento mais bonito daqui, porque o sol bate direto", Marcelo avisou. Aos poucos, o grupo foi entrando na água, menos fria do que esperavam, e muito mais funda do que imaginavam. Cerca de 8 metros de profundidade, que puderam ver com o auxílio de máscaras de mergulho.

A energia presente no lugar fazia acreditar na presença das entidades. Era um misto de medo com encanto. Os peixes que nadavam pelo lago, os morcegos que se debatiam, e o grupo lá, sentindo todo o misticismo que aquele santuário da natureza estava a oferecer.

Foi quando Galdino avisou: "Lá estão eles!", e apontou para uma pedra. Eram as entidades. Ele atravessou o rio e foi até elas, como se conversasse com os espíritos. Marcelo, o guia, não tinha falado nada até então, mas anunciou que não gostava muito dessas coisas e preferiu sair da água. O casal de São Paulo preferiu fechar os olhos e fazer uma oração, e pediram proteção não só a eles mesmos, mas, principalmente, àquele lugar.

Foto: PH Schneider

segunda-feira, agosto 20, 2007

A dança da ema

Naquela tribo isolada, a vida em grupo seguia à risca a bênção da unidade. “A humanidade está caminhando para sua destruição”, dizia o mestre, “e a única forma de impedir isso é se unir em prol do bem comum”.

E as pessoas colaboravam umas com as outras, e sabiam que era a única forma de viver em harmonia. Cada um fazia um pouco. A todo o momento alguém se propunha a ajudar com a comida, com a limpeza do local ou com belíssimas apresentações artísticas que entretinham a tribo.

Logo se via que a vida caminhava naturalmente sem a necessidade de conflitos ou leis. Eram como membros de uma só família, cientes de suas obrigações.

À noite, embalados pelas batidas de seus tambores, os índios experimentavam a sensação do transe coletivo. Dançavam ao redor da fogueira, sob o efeito de chás alucinógenos, cantando e incorporando a energia da natureza que adentrava seus corpos.

Até agora não acredito no que vi, preciso de testemunhas confiáveis.

quarta-feira, agosto 15, 2007

Scorpions

Há coisas na vida que têm que acontecer, o tal do destino. Pois bem, a minha ida ao show da banda alemã Scorpions, na noite de ontem, é o que se pode chamar de acaso do destino. Porque primeiro eu ia, depois não ia mais por falta de dinheiro. Aí fiquei triste, depois me conformei. E, sem saber de tudo isso, o amigo Elcio resolveu me presentear com um ingresso.

Como fui de trem, não peguei todo o trânsito que pude acompanhar da calçada, centenas de carros que se amontoavam em meio a cambistas e flanelinhas. "Não há mais vagas no Credicard", era o que diziam, e eu só conseguia pensar no meu pai, que iria de carro.

Eram 21h30 quando liguei pra ele, com medo de encontrar do outro lado da linha uma pessoa irritada e exausta de tanto esperar. "Hoje tem que ser especial, não pode dar problema", eu pensava. E ele não conseguiu parar o carro no estacionamento, droga. Mas estava tranqüilo, pois naquele momento estacionava o carro no Multipark ao lado e chegaria em 10 minutos. Durante estes torturantes segundos, mantive-me na fila para entrada na pista, que já acumulava mais de cem pessoas. E, quando estava prestes a chegar à entrada, ele apareceu. Ah, o destino.

A pista do Credicard Hall, que comporta 7 mil pessoas, estava em sua lotação máxima, e o público era o mais variado. Tiozinhos com esposa e filhos se apertavam entre jovens cabeludos e maquiados, ao lado de mulheres com salto agulha e perfumes adocicados que renderam uma bela dor de cabeça ao Elcio.

O show atrasou mais de meia hora, tendo começado por volta das 22h10, e de cara constatei que os cinco integrantes do grupo estão em plena forma. Física também, mas, principalmente, conservam as principais características que têm rendido décadas de sucesso à banda.

Confesso que não conhecia nenhuma das músicas do último álbum, “Humanity Hour 1”. Fiz questão de conhecê-las ao vivo, porque sabia que eles iam alterná-las aos grandes sucessos, e a idéia era ver se os alemães conseguiam manter o alto nível de suas canções. Talvez tenha subestimado os veteranos.

Cada um com um papel fundamental na apresentação, os integrantes
Klaus Meine (vocal), Rudolf Schenker (guitarra), Matthias Jabs (guitarra), James Kottak (bateria) e Pawel Maciwoda (baixo) demonstraram extremo profissionalismo e muita presença de palco. A todo o momento, um dos instrumentos se destacava na música, dando espaço para a realização de solos incríveis.

Destaque para o solo de bateria que Kottak realizou durante uma pequena pausa para descanso. Brincou com a platéia, subiu na bateria, gritou, vestiu uma camiseta do Brasil e cuspiu água pra cima, performances típicas de um astro do rock.

Das canções que conhecia, “The zoo” foi a primeira a ser tocada (e não saiu da minha cabeça até agora). “Send me an Angel” foi tão linda que me fez chorar (ok, eu sei que não precisa muito pra me fazer chorar, mas que foi emocionante, foi), seguida por outros dois clássicos: em “Always somewhere”, Klaus Meine mostrou toda a sua potência vocal, da qual eu cheguei a duvidar, dias antes; com “Holiday”, relembrei um célebre momento do DVD “Acoustica”, gravado em Lisboa em 2001.

E seguiram assim, entre canções novas – como “321”, pop-rock que promete ser um grande sucesso do disco novo – e antigas, como “Blackout”, do bem sucedido disco homônimo de 1982.

Ovacionados, agradeciam muito e o tempo todo, até saírem para dar uma respirada antes do bis. E respira fundo, porque o bis vem com nada mais, nada menos do que os três maiores clássicos do grupo.

“Still loving you” foi a primeira – e essa eu assisti de mãos dadas com meu pai, porque ele gosta muito dessa música e eu, de ir a shows com ele. Na seqüência, “Wind of Change”, como não poderia deixar de ser. E o cara assobia mesmo (eu nunca consegui assobiar tão agudo)!

Nem preciso dizer que me esbaldei ao som de “Hurricane”. Senti-me na década de 80, pulando ao som de “here I am/rock you like a hurricane”!

Mais aplausos, gritos, e o grupo se despediu. Algumas pessoas já iam embora quando os integrantes se entreolharam e fizeram sinais do tipo: “Mais uma? Mais uma?” E soaram os primeiros acordes de “When the smoke is going down”.

Achei até que a gente tinha ganhado de brinde essa última música, mas não. Estava tudo programado. E eu sei porque meu pai conseguiu pegar a folhinha com o set list. Aquela, que fica no chão para os músicos não se perderem. Show com meu pai agora é assim, a gente só sai com algum souvenir.

Foto: Alexandre Schneider/UOL

segunda-feira, agosto 13, 2007

É tudo Brasil

Pra quem assistiu Yamandu Costa se apresentando sozinho, depois ao lado do violonista Alessandro Penezzi, depois com o bandolinista Hamilton de Holanda (vide post anterior), foi uma surpresa vê-lo ao lado do mestre da sanfona no Brasil, o pernambucano Dominguinhos.

Isso porque, nas apresentações anteriores, o gaúcho Yamandu dominava o palco e o público, com dedilhados ultra-rápidos e sua forma agressiva de tocar o violão. Era sempre ele quem dava o tom, quem puxava as canções, e seus parceiros anteriores corriam para alcancá-lo, em performances que Irineu Franco Perpétuo definiu sabiamente na Folha como uma "corrida de Fórmula 1". Pois bem, só que dessa vez o parceiro tem 66 anos e sua experiência como sanfoneiro lhe imprime uma personalidade que impõe respeito.

O show de sábado, no Auditório do Ibirapuera, mostrou de certa forma uma hierarquia na música instrumental. O garoto Yamandu, que com seus 27 anos demonstra um controle total das sete cordas de seu instrumento, apresentou-se de forma mais serena e contida, mas igualmente bela. Foi Dominguinhos quem deu o tom, e Yamandu acompanhava, admirando-o como um garoto que de repente tem a oportunidade de se apresentar com seu ídolo.

A apresentação foi cercada de surpresas. Parecia que estávamos em um barzinho, vendo dois ícones da música instrumental conversarem e interagirem de forma harmônica. Em um determinado momento do show, Dominguinhos instigou Yamandu a cantar. "Esse menino tem uma voz belíssima", disse, e pela primeira vez tive a oportunidade de ouvi-lo. Afinado, o menino, que cantou "Negrinho do Pastoreio" e arrepiou até os mais insensíveis.

Dominguinhos respondeu, cantando "Forró no Escuro" (o candeeiro se apagou/o sanfoneiro cochilou/a sanfona não parou/e o forró continuou), de Luiz Gonzaga, com direito a backing vocal de Yamandu. E contou histórias de quando tocava com Gilberto Gil, a sanfona pesando treze quilos, ele em pé e Gil "simplesmente não parava de cantar!" O carisma em pessoa.

Ambos estavam muito à vontade, e improvisavam a todo tempo. Um ponto alto foi quando Dominguinhos resolveu ensinar ao público a diferença entre os sanfoneiros do nordeste e do sul do país, exemplificando com belos acordes e mostrando porque é considerado o sanfoneiro mais criativo do país.

Além das surpresas, o público teve a oportunidade de assistir às canções do álbum Yamandu + Dominguinhos, lançado em abril deste ano pela Biscoito Fino ("Biscoito Caro", segundo a dupla, que criticou a gravadora). "Wave", "João e Maria" e o pout-pourri "Asa Branca" + "Prenda minha" foram apenas algumas das demonstrações da integração entre estes dois talentos.

Com uma bela luz amarela vinda das laterais, e iluminação azul vinda de cima, somadas a um cenário lindo - panos coloridos lembravam as festas de São João - a dupla terminou o show de forma apoteótica, com "Tico-tico no fubá".

As apresentações aconteceram na última sexta, sábado e domingo, para gravação de um DVD. Quem viu, viu, quem não viu, vai ter que comprar o DVD quando sair. Se não quiser esperar, pode assistir no Youtube, em qualidade menor. Memorável.

quinta-feira, agosto 09, 2007

O casal mais animado de Carolina

Tocamos a campainha e fomos atendidos por uma simpática mulher de nome Joana D'Arc, que nos levou pra dentro do restaurante, bem decorado com almofadas coloridas e cortinas de penduricalhos.

Em seguida, veio o "Seu Rai" (pronuncia-se rái), dono do estabelecimento, um senhor com a pele queimada do sol e a postura de quem já foi da marinha em Santos. Morou em São Luiz e depois acabou caindo na pequena cidade de Carolina, sul do Maranhão. O motivo? Clonagem de documentação de sua antiga papelaria, e consequente ruína dos negócios.

Ele e a esposa, a Dona "de Jesus", deixaram os filhos já crescidos em São Luiz e buscaram seu sossego em Carolina. Para ocupar o tempo, "de Jesus" resolveu cozinhar sob encomenda, e em poucos meses transformou seu passatempo no restaurante mais gostoso da cidade: Ponto Alternativo.

"A gente só faz com pedido antecipado", disse Rai, "mas vou ver com a minha esposa o que temos aqui". Muito hospitaleiro, serviu-nos como cortesia azeitonas e palmito, cortado em aperitivo. Nada mal para um casal faminto que acabara de chegar de viagem. Nada mal MESMO, ainda mais com uma cervejinha bem gelada acompanhando.

"De Jesus" apareceu, a touca protegendo os cabelos. "Domingo é o dia que faço mais comida por aqui, e só tenho 'no jeito' um carneiro ao leite de coco com arroz e salada, pode ser?" Era o cordeiro de dona "de Jesus" ou arriscar-se a não encontrar nada melhor pra comer.

Minutos depois, chega ela com uma travessa gigante, espécie de moqueca de carneiro, um caldo saboroso com um toque sutil de coco. Nunca comi carne tão macia e saborosa na vida (ao preço simbólico de R$ 15,00 o prato).

Cumprimos a promessa de retornar no dia seguinte para experimentar o strogonoff, e encontramos o casal muito animado: seus filhos iriam visitá-los naquele final de semana. Tentamos encaixá-los no passeio que faríamos em seguida, pensando que eram dois ou três, mas dona "de Jesus" já avisou: "eles vão ter que fazer um passeio só eles, são seis!"

Na última noite, fomos comer espetinho na praça, e encontramos seu Rai e dona "de Jesus" animadíssimos com os filhos, bebendo cerveja e dando risada. Isso porque trabalharam o dia inteiro à frente do restaurante, e detalhe: já tinham saído pra balada no dia anterior ("dançamos até as 4 da manhã!"). Haja pique!

segunda-feira, agosto 06, 2007

Porque eu sou leonina

... e me envaidece o fato de estar cercada por tantos amigos no dia do meu aniversário. Uma pausa comemorativa em meio aos relatos de viagem.





Nem era pra ser tanto assim. Foi só um e-mail, um anúncio no nick do MSN. Uma reuniãozinha, pra não passar em branco, que acabou se transformando em uma das noites mais especiais de todos os tempos.

Eram amigos de toda parte. As meninas da Terroir, gente! Fizemos as contas: mais de um ano e meio sem nos vermos. E meu ex-chefe estava lá, e foi legal ouvir dele: "quando você entrou na empresa, com 19 anos, já era tão madura e responsável!" Mesmo que tenha dito isso depois de trocentos copos de cerveja. Porque leonino gosta de ser elogiado.

Relembrei histórias que aconteceram durante os dois anos em que estive por lá. As nossas célebres "tardes com as amigas" e os apuros na hora de pegar o ônibus na volta! Legal ver que cada uma está melhorando de vida, aos poucos.

E tinha gente do prédio, onde morei por dez anos e de onde saíram algumas das minhas atuais melhores amigas. Outras histórias, novas risadas. E tome abraços! Acho que nunca recebi tantos abraços... porque leonino gosta muito de receber carinho.

E teve a turma do PH, que nestes quatro anos e meio passou a ser minha também. E foi todo mundo e mais um pouco! Tanta gente que não consegui nem dar atenção a todos da mesma forma.

Da faculdade, já esperava que a melhor amiga fosse. "Nem que estivesse no Alaska", disse ela, e eu ri. E ela me abraçou forte como sempre e me disse aquelas palavras lindas que emocionam toda vez. Da facu, também, outro amigo me presenteou, aparecendo. Porque leonino adora surpresas e presentes, materiais ou não.

Os amigos mais recentes também passaram por lá. Da pós, uma visita rápida. Da turma do Trancendence, uma visita longa, que durou até as 4 da manhã, quando ninguém aguentava mais bebemorar. Mais risadas e planos de ir pra Bahia de Motor Home no final do ano.

Minha irmã, sempre presente, minha prima, que veio de Minas Gerais e resolveu ficar pra comemorar, meu namorado mais lindo e companheiro. Foram quarenta pessoas no total. Sim, eu contei, porque leonina é assim: adora estar rodeada de pessoas e de ser o centro das atenções.

terça-feira, julho 31, 2007

Inuká: uma loura com alma de índio

Lembro-me da primeira vez que a vi dançar. Usava um cocar de penas coloridas, muitos colares e roupas esvoaçantes. Seus cabelos louros e compridos até a cintura balançavam conforme as batidas da música eletrônica, impulsionados pelo vento constante da Bahia.

Pra ela, parecia não haver mais ninguém ali. De olhos fechados, balançava os braços e a cabeça, como se cada acorde, cada melodia, percorresse sua mente numa viagem psicodélica.

Aquela cena ficou marcada em mim. Quem seria aquela senhora tão bonita, que invocava deuses enquanto dançava?

Foi então que, numa tarde ensolarada do Maranhão - como não poderia deixar de ser - eu a vi sentada, conversando com Beth, minha vizinha de barraca. Sentei-me ao seu lado, invadi respeitosamente a conversa, e pude olhar bem de perto aquela mulher que, além de cabelos louros, tinha também penetrantes olhos azuis - e muita estória pra contar.

"Qual o seu nome?", eu pergunto, e ela, sorridente: "Inuká".

Durante algumas horas, viajei por tribos e vilarejos de todo o Brasil, mesmo sem sair de baixo daquela tenda cultural colorida. Inucá largou tudo, faculdade de direito, Rio de Janeiro, casa, para se dedicar aos índios. Descobriu-se xamã. Passou a percorrer tribos e a promover a cura através da dança e das ervas medicinais, e a cuidar de crianças desnutridas, e a ajudar os indígenas brasileiros de toda parte.

"Eles vivem na miséria, vocês não têm idéia!" E eu olhando fixo em seus olhos, medo de perder algum detalhe, a enorme semelhança física com minha mãe despertando um sentimento muito forte e involuntário por ela. Sentia-me um pouco sua filha, assim como cada um dos pequenos índios, que ela também chama de filhos.

E fizemos uma oração, e uma meditação em círculo dentro do rio, para renovar as esperanças de um novo ano.

E ela me ensinou sobre o xamanismo, sobre a relação hamônica com a natureza, sobre a vida.

E naquela noite, dancei bem perto dela, pra poder absorver toda energia e o poder de cura de sua dança.

domingo, julho 29, 2007

Festival Fora do Tempo














Uma ilha fluvial com 7 quilômetros de extensão, localizada entre os Estados do Tocantins e do Maranhão, que durante o período de seca na região (maio a setembro) oferece uma bela e ensolarada praia.

Esta paisagem, somada a um céu de múltiplas cores e dimensões, foi o cenário da segunda edição do Festival Fora do Tempo, que ocorreu entre os dias 20 e 25 de julho.

O local, conhecido como Ilha dos Botes, fica no município de Carolina – sul do Maranhão. Uma cidade pequena, com pouco mais de 20 mil habitantes, que recebeu com alegria toda a movimentação causada pelo evento.

Cerca de 2 mil pessoas participaram da comemoração do reveillón do calendário Maia, que calcula o ano de acordo com as fases da lua. Somando-se os ciclos da lua, temos um total de 364 dias, ou seja, fica faltando um dia para que o planeta Terra finalize seu movimento de translação. Este é considerado o “dia Fora do Tempo”, uma data para rever conceitos e idéias.

A preocupação com o impacto ambiental ficou clara desde a chegada à ilha. Os organizadores distribuiram kits contendo um sabonete biodegradável, uma semente de jatobá e uma camisinha. Estes sabonetes permitiram aos mais conscientes tomar banho sem poluir as águas do rio Tocantins.

Além disso, optou-se pelos banheiros ecológicos: latões enterrados na areia com cabines de madeira e palha de babaçu que geraram reclamações de alguns participantes, devido à falta de manutenção constante (cal e papel higiênico). Porém, esta forma de sanitário não deixa resíduos, pois os latões são retirados intactos após o término do festival.

Para quem esteve presente na primeira edição do Fora do Tempo, a surpresa foi grande – a estrutura praticamente triplicou de tamanho. A pista principal era rodeada de estrelas de madeira e palha, com tecidos coloridos oferecendo sombra. O maior destaque da decoração certamente foram os tótens com símbolos indígenas, produzidos com material reciclado pelo simpático artista uruguaio Antonio.

Com mandalas, tecidos e colchões espalhados pelo chão, o chill out estava aconchegante e sua sonorização ambientava as atividades que aconteciam logo ao lado, na tenda cultural.

Sem dúvida, um dos maiores investimentos desta edição do festival foi a praça de alimentação, com opções para todos os gostos. As mais de quinze barracas funcionavam 24 horas, e não faltou comida durante todo o tempo.

O que também não faltou foi boa música. Com o crescimento do evento, aprimorou-se também a estrutura de som, que tornou-se maior e com mais qualidade. A grande cabine, construída com toras de eucalipto, recebeu artistas brasileiros e estrangeiros. A proposta do evento de valorizar djs e produtores regionais manteve-se neste ano, e o que se viu foi um amadurecimento nas apresentações.

Foram muitos os convidados internacionais: Etic e E-jekt (Israel), Ital (Chile), Galaktik Wave (França), Rex (África do Sul), Hamelin e Ecliptic (México). Com desempenho de alto nível, os artistas mostraram um pouco de suas experiências nas mais variadas vertentes do trance psicodélico.

Sempre uma apresentação à parte, o trio Yagé – já conhecido por tocar nos principais festivais brasileiros – encantou o público com interferências musicais orgânicas como flauta, berimbau, tambores e até um berrante.

Dentre os artistas nacionais, destacaram-se os lives Cosmo Tech, Baphomet Engine, Crystall, Cannibal Barbecue, JP, Mental Broadcast e HYT, representando os Estados de Goiás, São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul e Pará.

A confiança depositada pelo evento em alguns djs nacionais trouxe como resposta boas surpresas. As principais delas foram os djs Diff (MA), Marcel (TO), Kali (ES), Piro (DF), Vinnix (SP), Pateta (PE) e Sarto (DF), que mostraram sets sérios e competentes.

É claro que os mais conhecidos não deixaram a desejar. Veteranos como Pedrão, Rodrigo CPU, Ekanta e Xamã fizeram jus à sua história na cena psicodélica nacional e movimentaram a pista de dança com técnica e responsabilidade.

Infelizmente, o caos aéreo impediu a chegada de importantes artistas. Um desfalque considerável foi o grupo paulista Pedra Branca, programado para tocar no último dia do festival. Mesmo assim, o chill out apresentou de reggae a jazz, com apresentações diversas como Smurf (SP), Pablo RST (CE), Radiola Rasta (CE) e o memorável versus entre a banda argentina Muamba e os integrantes do Yagé.

Para aqueles que buscavam uma transformação da consciência coletiva, as atividades culturais disponibilizaram não só entretenimento, mas principalmente troca de informações e experiências sobre os mais variados temas. Xamanismo, meditação ativa, oficinas, palestras e filmes ofereceram novos conhecimentos aos interessados.

A participação de grupos artísticos de várias partes do Brasil trouxe ainda mais magia à festa. Rituais de fogo, fantasias, tintas coloridas e intervenções teatrais permitiram um encantamento coletivo, que uniu os participantes em uma grande celebração.

Mesmo com a distribuição de “bituqueiras” (potinhos de filme fotográfico), era triste ver a quantidade de pontas de cigarro jogadas ao chão. A título de informação, este micro-lixo é formado por viscose, material que demora no mínimo dois anos para se decompor.

Ainda assim, o balanço final foi positivo. Era notável a integração entre o público de diferentes Estados, que voltou pra casa com algo diferente dentro de si: sentimentos de unidade, respeito e evolução espiritual.

Colaboração de PH Schneider

quinta-feira, julho 12, 2007

Drogas, glamour e palavrões

M - faaala Ri
R - blz?
M - blz e aí, como foi a festa do Valentino?
R - irada, perfeita
M - eu vi umas fotos no Uol Estilo, mas só das celebrities
R - eu vi várias celebrities, mas num sei quem era ninguém quase... tirei foto com algumas
M - vc viu a Uma Thurman?
R - Ricardo sent you a file -



M - CARALHO PUTA QUE PARIU!!
R - ela é horrorosa
M - eu acho ela linda
R - tem melhores. E ainda ela tinha acabado de dar uns tiros no banheiro (pelo menos foi o que eu e os outros 3 da foto concluímos)

segunda-feira, julho 02, 2007

A Graça da Vida

A vida tem muita graça, mas a gente só passa a percebê-la e valorizá-la de verdade quando alguma coisa de ruim acontece. E como a arte imita a vida (neste caso, literalmente), é assim também com Kate e Grace Griswald (Graziella Moretto e Nathalia Timberg) na peça "A graça da vida", dirigida por Aimar Labaki.
A estória fala da relação de amor entre mãe e filha, fortalecida depois da descoberta do mal de Alzheimer em Grace. O contato com o sentimento de perda, o desapego, as dificuldades em aceitar que uma pessoa próxima definhe aos poucos foram algumas das questões tratadas no espetáculo, que consegue ser engraçadíssimo e dramático ao mesmo tempo.
Entre risos e lágrimas, interpretações absolutamente perfeitas de todos os atores, que caminharam com desenvoltura pela comédia e pelo drama. Nathalia Timberg, alternando os estados de saúde e doença (em que ficava somente sentada, imóvel, com o olhar perdido), emocionou. Grazi Moretto (que também é a produtora da peça) trouxe um humor inteligente e sarcástico - além de ser linda. Emilio Orciollo Netto, na pele do médico Sam, transmitiu segurança e mostrou que tem talento também para o teatro (só tinha o visto pela TV).
O elenco se completa com Clara Carvalho, engraçadíssima como a perua-atriz Madge; Ênio Gonçalves, como Jack, o marido fraco e submisso de Grace que depois revela sua sexualidade enrustida durante anos, está impecável; Eliana Rocha está muito bem no papel de Lorna, a galinha de meia idade que conquista Jack durante uma viagem; e Fábio Azevedo, divertido e espevitado como Marty, assistente de Kate.
***

Kate é uma produtora de televisão que vive atribulada com o programa para o qual escreve. Mal tem tempo de ver seus pais, Grace e Jack. Um dia, Grace liga para a filha dizendo que há "homens estranhos pela casa", e Kate percebe que algo de grave está acontecendo. Leva a mãe ao médico, Samuel, que diagnostica o mal de Alzheimer.
A partir daí, o que se segue é a luta da filha para recuperar a dignidade da mãe, que aos poucos vai perdendo as células de seu cérebro, e não mais conversa, nem se move. O tratamento é doloroso, até que o surgimento de um novo remédio anima o médico e a filha. Ambos acompanham com entusiasmo a recuperação de Grace, que volta a andar, conversar e palpitar em tudo - as coisas voltavam ao normal, afinal. Pelo menos por um tempo.
Mais do que uma estória sobre vida e morte, "A Graça da Vida" toca profundamente em questões sentimentais. São fatos reais, escritos por Trish Vradenburg sobre sua mãe. Uma estória de luta pela vida, da busca por pequenos momentos de alegria quando já não há mais tanta esperança. Da valorização do que temos de mais precioso, mesmo que essa consciência só tenha surgido diante do sentimento de perda.

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Serviço
A partir de 29 de junho no Teatro Vivo
Av. Dr. Chucri Zaidan, 860 - Morumbi
Tel.: (11) 3188-4141
Horários: Sextas às 21h30, Sábados às 21h00 e Domigos às 18h00
Ingressos: R$ 50,00 - inteira e R$25,00 - meia

domingo, julho 01, 2007

Mariana conta um

Porque tenho amiga Jéssica que não pode falar o nome sem ouvir "o nome dela é Jéssica/eu já falei pra você/é a coisa mais linda/que Deus pode trazer" e amiga Camila que perdeu as contas de quantas vezes já escutou seu nome pela voz de Humberto Gessinger (Camila-há, Camila!).

Tive a "sorte" de ter muitas músicas com meu nome. Não é que seja o nome mais lindo do mundo, nem que rime fácil com qualquer coisa - apesar de que rima mesmo. Eu acho, sim, é que há muitas Marianas queridas no mundo, que inspiraram muitas músicas. Da mais linda à mais irritante, seja pagode, sertanejo ou instrumental, qualquer homenagem é válida.

Yamandú - a mais linda
Há alguns dias escrevi sobre Yamandú Costa, e disse entre outras coisas que "Mariana" é sua canção mais bela. Isso levantou suspeitas sobre uma possível puxação de saco para o meu nome, mas não! Se ela se chamasse Paula, Iracema ou Beatriz (que aliás é a mais bela do Chico, na minha opinião) eu iria continuar achando que é a mais emocionante canção do instrumentista. Pena que não achei nada no Youtube pra mostrar aqui.

Sérgio Reis - a mais engraçada
Um dia, não me lembro quando nem onde, escutei uma música do Sérgio Reis chamada "Adeus Mariana". Na letra, o ex-jovem guarda e atual ídolo sertanejo canta seus conflitos com a brava Mariana: "e ela de zangada foi quebrando tudo/pegou a minha roupa e jogou porta a fora/agarrei, fiz uma trouxa e saí dizendo/adeus, Mariana que eu já vou embora."
O mais engraçado é que, ao final da música, ele começa a resmungar algumas reclamações sobre a esposa. Reclama, reclama e conclui: "eu sei que ela me bate. Mas ninguém tem nada com isso, quem apanha sou eu mesmo!" Sempre rio imaginando aquele homenzarrão de quase 2 metros apanhando da mulher. Até me identifiquei (hihi).

Sem compromisso - a mais irritante
Na época em que "Mariana, parte minha" (composta pelo Neguinho da Beija Flor com o grupo Sem Compromisso) estava na moda, era só falar o nome pra escutar a letra "Mariana te dou/Mariana calor/Mariana, parte minha/Mariana minha flor", graciosamente adaptada pela Rose (que trabalhava em casa) para "Mariana TINDÔ". Sim, ela não me chamava de nada, só de Mariana tindô.

Cantiga de roda - a mais cantada
Essa é a campeã de todos os tempos. No começo, beem no comecinho, eu até achava graça, mas não sei por que começaram a cantar demais, e tudo o que é demais irrita. Começava com: "Maaariana conta um/Um conta Mariana/É um, é Ana/Viva Mariana!" e chegava aos 8, 9, 10. Ainda bem que de uns anos pra cá, pararam com isso. É pra qualquer um passar a odiar o nome pro resto da vida, não?

sábado, junho 23, 2007

All that jazz

Cheguei um pouco nervosa, uma timidez que se revela toda vez que alguma situação nova está para acontecer. O coração acelerado, as mãos tremendo. Lugar aconchegante, a meia-luz oferecendo um clima intimista aos poucos participantes que já se encontravam reunidos.

Um a um, foram se apresentando. Nem precisava. Parecia que já conhecia cada um de longa data. Engraçado quando não se conhece uma pessoa, mas se sabe tanto sobre sua vida que se cria uma sensação de intimidade, mesmo sem ter tido nenhum contato anterior. E foi assim que me senti. Tinha vontade de conversar com cada um tal qual um amigo antigo.

Eles conheciam os pontos fortes e fracos uns dos outros, as melhores e piores histórias. Eram tão íntimos, tão entrosados, e por alguns momentos me senti à vontade para também ser parte daquele todo.

Porque, de certa forma, já era parte.

quarta-feira, junho 13, 2007

Cachoeira Alta Dance Festival

Cada festival possui sua peculiaridade. Cada lugar guarda uma energia única, uma beleza incomparável. E cada encontro psicodélico permite a integração entre pessoas que compartilham da mesma essência e dos mesmos objetivos. Um ritual coletivo, em meio à individualidade crescente na sociedade atual.
De 7 a 10 de junho, aconteceu na cidade de Ipoema, Minas Gerais, o Festival Cachoeira Alta. Aos pés de uma belíssima cachoeira de 100 metros de queda d’água, o festival mostrou-se bem organizado em todos os sentidos.
No primeiro dia, como não poderia deixar de ser, houve filas para ter acesso ao festival. Do amplo estacionamento, quatro vans se revezavam no embarque de pessoas e bagagens, rumo à revista – a qual felizmente ocorreu de forma ágil.
Logo na entrada do festival, era possível ver a numerosa quantidade de barracas espalhadas pelo lugar: nos gramados, ao redor do rio, qualquer canto que parecesse aconchegante logo era ocupado por uma barraca. Apesar do grande número, a impressão era a de que havia espaço para todos.
Não há como não destacar a decoração primorosa da pista principal, sob a responsabilidade da Space Devas. No palco, duas belas deusas verdes contrastavam com espécies de algas em cores fluorescentes, que brilhavam tanto sob a luz do sol – escaldante durante o dia – quanto à noite, devido às muitas lâmpadas de luz ultravioleta.
A maior surpresa decorativa certamente foi o enorme meteoro localizado no centro da pista. Dele, saíam “braços” robóticos, com luzes, acessórios e globos de plasma íon (aqueles círculos de onde saem raios, que se concentram em um ponto ao toque da mão), que causaram um excelente impacto à noite e divertiram os participantes que interagiam com a decoração.
A preocupação com a boa música ficou clara o tempo todo. Artistas nacionais e de várias partes do mundo demonstraram todo o seu potencial artístico. Era notável o empenho de cada um para mostrar novas sonoridades e envolver o público numa só atmosfera.
Logo no primeiro dia, os BPMs se mantiveram baixos, com as envolventes apresentações de James Monro, Kore e Marcello V.O.R.. As batidas subiram de velocidade com o live israelense BLT, e foram mantidas na apresentação de Sam Miura e do surpreendente live nacional Mad Hatters.
O segundo dia começou bem para os amantes do full-on. Mais uma vez, todo o potencial brasileiro foi mostrado ao público através dos trabalhos de Baphomet Engine, Interactive, Life Style e Wrecked Machines, além dos sets de Kali versus Sonicz, Kitty, Pin – considerado atualmente o maior destaque da cena mineira – e Du Serena, após o qual se reiniciou o trance e o house progressivo.
O live Solead roubou a cena, tocando ao final de tarde. A utilização do teremim – instrumento de origem russa que utiliza a vibração para emitir sons – trouxe um caráter ainda mais especial à apresentação, sucedida por Flow&Zeo, Perfect Stranger, The First Stone e os sets nacionais de Gugha, Mack e JP.
O sábado ensolarado não contou com a presença de Rica Amaral, mas houve uma inesquecível seqüência de apresentações: Dimitri Nakov manteve a pista em constante movimento, dando lugar ao set sensual de Julio Navas. Os suecos do Tegma e os dinamarqueses do Flowjob deram uma aula de trance progressivo, seguidos pelo set de Shane Gobi e o live de Shanti, praticamente um residente do festival.
Apresentação rara no Brasil, o Dj japonês Tsuyoshi Suzuki esquentou a madrugada fria de sábado com um set pesado repleto de solos de guitarra. A finalização, com o remix de “Hand that feeds”, do Nine Inch Nails, foi histórica. Os lasers e a lua maravilhosa colaboraram para isso.
O domingo amanheceu com uma sensação de “quero mais”. Muitas pessoas deixavam o acampamento e se dirigiam à saída, onde as vans faziam o trajeto de volta sem muitas complicações.
Sem a presença de Feio, o público dançou ao live sério de JP, que abriu para o dançante Triptych. Jota, que tocou em seguida, manteve a pista em polvorosa para a excelente apresentação do The Commercial Hippies. Dahan baixou os BPMs, abrindo para a impecável apresentação da Dj Tati.
A preocupação com a qualidade musical também foi expressa através do chill out. Sem a exuberância decorativa da pista principal, composto somente por grandes flores localizadas ao centro, o espaço possuía esteiras e almofadas coloridas para estimular o relaxamento dos participantes.
Com a abertura de Murilo Ganesh, o chill out recebeu apresentações de artistas das mais diversas vertentes, caminhando entre o dub, o ambient, funk, soul e o melhor em música experimental.
O grupo Pedra Branca, sempre muito aguardado pelo público, tocou com atraso no terceiro dia, devido a problemas com vôos. Mesmo assim, muitas pessoas se reuniram para acompanhar a apresentação envolvente do grupo.
Outro destaque do chill out foi a apresentação dos percussionistas da Tribo Espiral, que falaram sobre os princípios da religião rastafári enquanto contagiavam o público com seus instrumentos. O Dj Smurf, responsável pela organização artística do espaço, tocou no último dia um set repleto de muito groove, funk e jazz.
Com uma numerosa equipe de funcionários, que trabalhavam com afinco na limpeza das pistas e praça de alimentação, na manutenção e limpeza dos banheiros e fazendo a segurança do local (reforçada com a presença em massa da polícia), ficou provada a preocupação dos núcleos organizadores – Trance Movement, Kaballah, Euphoria e Psico Trance – com o conforto do público presente.
Durante todo o tempo, a praça de alimentação manteve-se abastecida e sem filas, assim como os caixas e bares . Com uma boa variedade de alimentos e bebidas, o festival não deixou a desejar em nenhum aspecto. Inclusive no que se refere ao impacto ambiental: com a coleta seletiva, muitos funcionários separavam o lixo reciclável e acumulavam toneladas de latas, papéis e copos plásticos.
Houve também uma série de palestras educativas sobre os mais diversos temas, filmes e documentários sobre a existência humana e muitas atividades culturais que permearam o festival. O tempo todo, era visível a satisfação do público em estar ali. Cerca de 2.500 pessoas interagiram na mais perfeita paz durante os quatro dias.
Em um recente levantamento, foi verificado que Minas Gerais é o estado brasileiro com mais festas rave por mês, depois de São Paulo. Mesmo que as festas trance não tenham surgido em Minas Gerais, e mesmo que o estado tenha ficado fora do eixo das grandes festas, aos poucos foi conquistando espaço e hoje se consolida como um importante centro de produção e divulgação da música eletrônica no Brasil.
Isto só foi possível graças à essência da população mineira, graças à preocupação com o bem-estar e à tranqüilidade perceptível em cada funcionário atencioso, a cada motorista de van que se divertia com as brincadeiras nas idas e voltas para a portaria.
O maior exemplo desta simplicidade é o Sr. Onelvino Coelho, o dono da fazenda Cachoeira Alta. O ex-tropeiro de 83 anos passava despercebido entre os participantes do festival, mas esteve lá durante o tempo todo. Simpático, circulava com sua Brasília amarela pelas estradas de terra, daquela que é a sua terra, mas que gentilmente ele concede há mais de quatro anos para a realização deste encontro alternativo mais que especial.
Fotos por P.H. Schneider. Mais aqui.