segunda-feira, agosto 13, 2007

É tudo Brasil

Pra quem assistiu Yamandu Costa se apresentando sozinho, depois ao lado do violonista Alessandro Penezzi, depois com o bandolinista Hamilton de Holanda (vide post anterior), foi uma surpresa vê-lo ao lado do mestre da sanfona no Brasil, o pernambucano Dominguinhos.

Isso porque, nas apresentações anteriores, o gaúcho Yamandu dominava o palco e o público, com dedilhados ultra-rápidos e sua forma agressiva de tocar o violão. Era sempre ele quem dava o tom, quem puxava as canções, e seus parceiros anteriores corriam para alcancá-lo, em performances que Irineu Franco Perpétuo definiu sabiamente na Folha como uma "corrida de Fórmula 1". Pois bem, só que dessa vez o parceiro tem 66 anos e sua experiência como sanfoneiro lhe imprime uma personalidade que impõe respeito.

O show de sábado, no Auditório do Ibirapuera, mostrou de certa forma uma hierarquia na música instrumental. O garoto Yamandu, que com seus 27 anos demonstra um controle total das sete cordas de seu instrumento, apresentou-se de forma mais serena e contida, mas igualmente bela. Foi Dominguinhos quem deu o tom, e Yamandu acompanhava, admirando-o como um garoto que de repente tem a oportunidade de se apresentar com seu ídolo.

A apresentação foi cercada de surpresas. Parecia que estávamos em um barzinho, vendo dois ícones da música instrumental conversarem e interagirem de forma harmônica. Em um determinado momento do show, Dominguinhos instigou Yamandu a cantar. "Esse menino tem uma voz belíssima", disse, e pela primeira vez tive a oportunidade de ouvi-lo. Afinado, o menino, que cantou "Negrinho do Pastoreio" e arrepiou até os mais insensíveis.

Dominguinhos respondeu, cantando "Forró no Escuro" (o candeeiro se apagou/o sanfoneiro cochilou/a sanfona não parou/e o forró continuou), de Luiz Gonzaga, com direito a backing vocal de Yamandu. E contou histórias de quando tocava com Gilberto Gil, a sanfona pesando treze quilos, ele em pé e Gil "simplesmente não parava de cantar!" O carisma em pessoa.

Ambos estavam muito à vontade, e improvisavam a todo tempo. Um ponto alto foi quando Dominguinhos resolveu ensinar ao público a diferença entre os sanfoneiros do nordeste e do sul do país, exemplificando com belos acordes e mostrando porque é considerado o sanfoneiro mais criativo do país.

Além das surpresas, o público teve a oportunidade de assistir às canções do álbum Yamandu + Dominguinhos, lançado em abril deste ano pela Biscoito Fino ("Biscoito Caro", segundo a dupla, que criticou a gravadora). "Wave", "João e Maria" e o pout-pourri "Asa Branca" + "Prenda minha" foram apenas algumas das demonstrações da integração entre estes dois talentos.

Com uma bela luz amarela vinda das laterais, e iluminação azul vinda de cima, somadas a um cenário lindo - panos coloridos lembravam as festas de São João - a dupla terminou o show de forma apoteótica, com "Tico-tico no fubá".

As apresentações aconteceram na última sexta, sábado e domingo, para gravação de um DVD. Quem viu, viu, quem não viu, vai ter que comprar o DVD quando sair. Se não quiser esperar, pode assistir no Youtube, em qualidade menor. Memorável.

2 comentários:

  1. Anônimo12:34 PM

    Já estou curioso para saber qual será a próxima parceria do Yamandú! Será sempre único, um gênio!

    Lindo texto amor!

    ResponderExcluir
  2. Anônimo12:07 PM

    Adorei o post, Mari. E me arrependo por não ter ido... :(

    ResponderExcluir

Sinta-se em casa