terça-feira, agosto 21, 2007

Magia azul


Partiram na Hilux de Marcelo rumo ao passeio que tanto esperavam. Iria custar-lhes um pouco caro, mas certamente valeria a pena. Além do mais, Marcelo e sua namorada Monique estavam para ter um bebê ("tá pra nascer o bacurizinho", disse o guia), e nada melhor do que ocupá-lo com bastante trabalho para que conseguisse arrecadar, durante a alta temporada, um pouco de dinheiro para sustentar seu primeiro filho com segurança.

O casal de São Paulo, que compunha o grupo, havia conhecido os companheiros Jobert e Galdino (de São Luiz), dois dias antes, durante um passeio pelas cachoeiras de São Romão e Prata, e já havia feito um outro passeio no dia anterior, à incrível cachoeira da Pedra Caída. Portanto, naquele terceiro dia, sentiam-se à vontade para conversar sobre os mais diversos assuntos.

Não se sabe como, nem quando, mas o engraçadíssimo Galdino de repente ficou sério e começou a falar de espiritismo. Disse que enxergava vultos, espíritos, e algumas vezes chegava a ter premonições. A garota, que também acreditava na existência de um plano espiritual, embarcou na conversa e passou a escutar com atenção cada aventura contada pelo maranhense.

De repente, o biólogo anunciou: "vejo uma pedra bem alta, com uma luz incidente, e um lindíssimo lago azul. Acima do lago, entre as pedras, vejo três entidades, são guardiões da floresta. Mas fiquem tranquilos, eles não precisam de oração, e são do bem."
Duas horas e meia depois, pararam o carro no limite da estrada de areia e desceram, para caminhar mais dois quilômetros rumo ao Encanto Azul - que prometia ser o mais belo entre os belos lugares para se conhecer na Chapada das Mesas. O sol forte castigava a pele, mas os ecoturistas sabiam que valeria a pena.

Os caminhos de areia seca e árvores baixas aos poucos foi tornando-se fechado, as árvores aumentaram de tamanho e a presença dos buritis anunciava a presença de água. "Estamos próximos", o grupo pensava. Que nada. Ainda teriam uma trilha por entre corredeiras de água, entre pedras e mata fechada, com direito a uma movimentação estranha que, segundo Marcelo, era um filhote de jacaré.

Desde o início da caminhada pela água, os viajantes sentiram uma energia muito forte, como se o lugar possuísse realmente algo místico. Sensação que explodiu de tão forte ao adentrarem, finalmente, o Encanto Azul. Corações acelerados e pernas misteriosamente tremendo.

O forte cheiro de amônia, proveniente da urina dos morcegos que habitam aquela caverna, dava um ar ainda mais selvagem ao local, praticamente intocado pelo homem. "Estamos na casa dos animais", a garota pensou, ao andar com cautela entre uma enorme teia de aranha.

A água, límpida e azul como jamais tinham visto, brilhava aos reflexos do sol do meio-dia. "É o momento mais bonito daqui, porque o sol bate direto", Marcelo avisou. Aos poucos, o grupo foi entrando na água, menos fria do que esperavam, e muito mais funda do que imaginavam. Cerca de 8 metros de profundidade, que puderam ver com o auxílio de máscaras de mergulho.

A energia presente no lugar fazia acreditar na presença das entidades. Era um misto de medo com encanto. Os peixes que nadavam pelo lago, os morcegos que se debatiam, e o grupo lá, sentindo todo o misticismo que aquele santuário da natureza estava a oferecer.

Foi quando Galdino avisou: "Lá estão eles!", e apontou para uma pedra. Eram as entidades. Ele atravessou o rio e foi até elas, como se conversasse com os espíritos. Marcelo, o guia, não tinha falado nada até então, mas anunciou que não gostava muito dessas coisas e preferiu sair da água. O casal de São Paulo preferiu fechar os olhos e fazer uma oração, e pediram proteção não só a eles mesmos, mas, principalmente, àquele lugar.

Foto: PH Schneider

4 comentários:

  1. Anônimo1:39 PM

    Sem dúvida a energia natural mais "intensa" que já senti. Nessas viagens selvagens é possível entrar em contato com outra dimensão, o plano espiritual. Utilizando como ponte, as forças da natureza.

    Lugar inesquevícel!

    bjo no coração,

    PH

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  2. Anônimo12:07 AM

    nossa, Mari, esse texto me fez realmente ir até lá durante os minutos q passei presa nele...

    existe sim paraíso, e nem tão longe, e nem tão à altura das nuvens.

    parabéns.

    beijo...

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  3. Anônimo2:34 PM

    Mari, indiquei tb seu blog.
    Obrigado!
    Bjão

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  4. Anônimo3:35 PM

    Inesquecível.

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