sexta-feira, dezembro 21, 2012

It's the end of the world, and I feel fine.


Lembro de estar sentada numa praia, o céu todo encoberto, muito carregado. Não era uma praia comum, nem um dia comum, a atmosfera estava estranha, como se o mundo fosse mesmo acabar. O ar era tão denso que se podia pegá-lo com as mãos.

Eu gritava: olha o sol! Eu consigo ver o sol! As pessoas não conseguiam vê-lo, mas eu sim. Era um buraco no meio das nuvens, de onde era possível ver o sol, bem pequenininho, como se mostrasse sua luz só pra mim. O céu estava mais longe do que de costume, e o sol continuou a me olhar e me chamar pra perto dele.

Fechei os olhos e estava voando. Não consegui saber se era uma nave, um avião ou se estava sozinha voando mesmo. Só sei que viajei pelo mundo, desviando de aviões, foguetes e outros transportes aéreos, fazendo acrobacias no ar e voando baixo nos países que escolhi, sem sair da cápsula em que estava. Lembro de um espetáculo de rua em Paris, um musical a céu aberto em NY, aquela mesma praia densa e escura, agora vista do alto, e consigo lembrar do quão maravilhosa era aquela sensação, a felicidade que eu sentia ao desbravar o mundo, em experimentar a liberdade de voar para onde quisesse.

Que lindo, que lindo! Gritava, e me emocionava, e agradecia. O mundo estava acabando, mas nada iria mudar aquela sensação.

Um beijo feliz pra você que sonhou com o fim do mundo e, contraditoriamente, voltou a se sentir viva.

segunda-feira, julho 16, 2012

Saudade(s)

Uma vez me disseram que saudade só se usa no singular, porque é um substantivo abstrato que retrata emoções. É errado dizer que sentimos raivas ou penas... portanto, não sentimos saudades, mas sim saudade. Até hoje não consegui confirmar a informação, mas, na paranoia de usar sempre o português correto, parei de usar saudades e adotei a solitária saudade no vocabulário. Mal sabia eu que minha vida iria dar uma reviravolta, como a que aconteceu há exatos 3 meses...

Nunca escondi a paixão pelos meus avós - como no post sobre o talento de minha avó ao piano ou no relato sobre os curiosos costumes dos dois. Imaginem então qual não foi minha dor quando, no dia 16 de abril de 2012, perdi para sempre a minha avó querida.

As sensações foram muitas e tudo aconteceu tão rápido que fica até difícil de explicar. No momento em que tudo aconteceu, perdi totalmente as forças. Onde estava, sentei no chão e me coloquei a chorar compulsivamente, não querendo acreditar. Ninguém esperava por aquilo, afinal, ela estava bem!

Naquela noite, pensei muito, muito em minha avó. Me ensinaram que eu deveria mentalizá-la dentro de uma bola de luz, feliz e com semblante sereno, assim como a encontramos falecida em sua cama, e que isso a ajudaria a subir em paz, tranquila. E foi o que fiz: pensei nela com tanta força, dentro daquela bola de luz, com aquele sorriso tão lindo de sempre, que de repente fui invadida por uma sensação enorme de paz. Parei de chorar, e naquele momento tive a certeza de que ela estava bem.

Senti que, naquele momento, surgia uma força dentro de mim que jamais imaginei ser possível, um amadurecimento instantâneo e uma mudança imediata na forma de ver o mundo... Quase conseguia ouvir a sua voz dizendo: "está tudo bem comigo, agora seja firme e cuide do seu avô." E voltei a encarar a vida como ela sempre fez: com força, com alegria e, acima de tudo, com muito amor.

Dois meses depois, o que fica é a saudade...

Tenho saudade de ligar pra ela quando chego em casa do trabalho.
Saudade de pedir que ela acenda uma vela para Santo Expedito quando estou em um momento importante da vida.
Tenho saudade de suas sopinhas de café com leite, e do creme de chocolate que ela fazia quando eu era pequena.
De quando íamos juntas à praia ou à piscina.
Saudade de quando ela cantava músicas a partir de qualquer palavra que você dissesse.
E de quando ela tocava "Fascinação" no meu teclado.
E quando dançava "New York, New York" com meu avô em qualquer lugar que fosse.
Saudade de quando ela me ensinou a costurar roupinhas para as bonecas, quando eu ia passar as tardes lá.
E de quando fazíamos pesquisas juntas nas enciclopédias, para meus trabalhos da escola.
Saudade do seu cheiro de vovó.
Das suas palavras sempre positivas.

Do seu carinho.

Alguém uma vez disse que saudade não se usa no plural. O português que me desculpe, mas são tantas saudades que resolvi voltar a usá-las todas do jeito que bem entender.

segunda-feira, janeiro 02, 2012

Férias


Os pés adoraram ficar sem salto alto.
A pele queimada de sol já nem lembra mais o que é ar condicionado.
Os cabelos tiraram férias do secador e da chapinha.
Os olhos já se esqueceram da maquiagem.
A cabeça deixou em São Paulo todas as preocupações.

Sentada ao pé da belíssima cachoeira, chorou. Botou pra fora o restinho de 2011 que ainda restava ali, e suas lágrimas mornas correram com a água gelada para sabe-se lá aonde. Enquanto isso, novas e energizadas águas vinham até ela.

Era o último dia do ano.