quarta-feira, fevereiro 27, 2013

Roda mundo, roda-gigante

Tive uma manicure que era praticamente uma terapeuta. Tata, como costumava ser chamada (seu nome de verdade eu nunca cheguei a saber), era super espiritualizada e entendia um pouco de tudo: havia sido seguidora de Trigueirinho, trabalhado com Santo Daime, frequentado centros espíritas, e sempre tinha uma boa palavra ou uma história bonita pra me contar. A cada conversa, parecia que a gente descolava daquele ambiente barulhento do salão de beleza e entrava num outro plano, em que eu me arrepiava, me renovava e aprendia, religiosa e semanalmente.

Eram mãos e alma renovados!

Um dia, estava meio pra baixo e, como de costume, desabafei com ela. Falei das minhas desilusões e de como criava expectativas muito altas com relação a quase tudo na vida. E então ela me falou: "pense na vida como uma roda-gigante. A gente está sempre rodando, às vezes por cima, e outras por baixo. E, esteja onde estiver, você precisa aceitar, respeitar e entender que em seguida estará do lado contrário! Havia um sábio que tinha, junto à sua cabeceira, uma plaquinha que dizia: 'não é pra sempre'. Quando ele estava muito triste, olhava pra ela e entendia que, em breve, estaria tudo bem; ao passo que, quando estava feliz, olhava a placa e passava a valorizar ainda mais aquele momento, por lembrar que aquilo também não duraria pra sempre. Então é um pouco assim que a vida se apresenta."

E aí guardei essa informação, pra consultar quando fosse preciso.

Pra quem vive intensamente, a velocidade da roda-gigante é ainda maior. Porque a gente quer aproveitar tudo ao mesmo tempo e cria expectativas tão grandes de que tudo será maravilhoso, que quando não acontece a roda desce e logo a gente vai lá pra baixo, pra no minuto seguinte se prender a outro plano, outro sonho, e subir de novo com a mesma intensidade, sentido céu.

E, com o passar do tempo, a gente aprende que o por cima e o por baixo dessa roda são relativos, e que é possível (e inevitável) que cada um dos lados tenha um saldo positivo no final, em forma de aprendizado. Aprende-se a respeitar e honrar a dor da queda.

Até porque a hora de descer é a que dá o frio na barriga, e o frio na barriga é o que deixa a gente esperto pra encarar a vida.