sábado, junho 23, 2007

All that jazz

Cheguei um pouco nervosa, uma timidez que se revela toda vez que alguma situação nova está para acontecer. O coração acelerado, as mãos tremendo. Lugar aconchegante, a meia-luz oferecendo um clima intimista aos poucos participantes que já se encontravam reunidos.

Um a um, foram se apresentando. Nem precisava. Parecia que já conhecia cada um de longa data. Engraçado quando não se conhece uma pessoa, mas se sabe tanto sobre sua vida que se cria uma sensação de intimidade, mesmo sem ter tido nenhum contato anterior. E foi assim que me senti. Tinha vontade de conversar com cada um tal qual um amigo antigo.

Eles conheciam os pontos fortes e fracos uns dos outros, as melhores e piores histórias. Eram tão íntimos, tão entrosados, e por alguns momentos me senti à vontade para também ser parte daquele todo.

Porque, de certa forma, já era parte.

quarta-feira, junho 13, 2007

Cachoeira Alta Dance Festival

Cada festival possui sua peculiaridade. Cada lugar guarda uma energia única, uma beleza incomparável. E cada encontro psicodélico permite a integração entre pessoas que compartilham da mesma essência e dos mesmos objetivos. Um ritual coletivo, em meio à individualidade crescente na sociedade atual.
De 7 a 10 de junho, aconteceu na cidade de Ipoema, Minas Gerais, o Festival Cachoeira Alta. Aos pés de uma belíssima cachoeira de 100 metros de queda d’água, o festival mostrou-se bem organizado em todos os sentidos.
No primeiro dia, como não poderia deixar de ser, houve filas para ter acesso ao festival. Do amplo estacionamento, quatro vans se revezavam no embarque de pessoas e bagagens, rumo à revista – a qual felizmente ocorreu de forma ágil.
Logo na entrada do festival, era possível ver a numerosa quantidade de barracas espalhadas pelo lugar: nos gramados, ao redor do rio, qualquer canto que parecesse aconchegante logo era ocupado por uma barraca. Apesar do grande número, a impressão era a de que havia espaço para todos.
Não há como não destacar a decoração primorosa da pista principal, sob a responsabilidade da Space Devas. No palco, duas belas deusas verdes contrastavam com espécies de algas em cores fluorescentes, que brilhavam tanto sob a luz do sol – escaldante durante o dia – quanto à noite, devido às muitas lâmpadas de luz ultravioleta.
A maior surpresa decorativa certamente foi o enorme meteoro localizado no centro da pista. Dele, saíam “braços” robóticos, com luzes, acessórios e globos de plasma íon (aqueles círculos de onde saem raios, que se concentram em um ponto ao toque da mão), que causaram um excelente impacto à noite e divertiram os participantes que interagiam com a decoração.
A preocupação com a boa música ficou clara o tempo todo. Artistas nacionais e de várias partes do mundo demonstraram todo o seu potencial artístico. Era notável o empenho de cada um para mostrar novas sonoridades e envolver o público numa só atmosfera.
Logo no primeiro dia, os BPMs se mantiveram baixos, com as envolventes apresentações de James Monro, Kore e Marcello V.O.R.. As batidas subiram de velocidade com o live israelense BLT, e foram mantidas na apresentação de Sam Miura e do surpreendente live nacional Mad Hatters.
O segundo dia começou bem para os amantes do full-on. Mais uma vez, todo o potencial brasileiro foi mostrado ao público através dos trabalhos de Baphomet Engine, Interactive, Life Style e Wrecked Machines, além dos sets de Kali versus Sonicz, Kitty, Pin – considerado atualmente o maior destaque da cena mineira – e Du Serena, após o qual se reiniciou o trance e o house progressivo.
O live Solead roubou a cena, tocando ao final de tarde. A utilização do teremim – instrumento de origem russa que utiliza a vibração para emitir sons – trouxe um caráter ainda mais especial à apresentação, sucedida por Flow&Zeo, Perfect Stranger, The First Stone e os sets nacionais de Gugha, Mack e JP.
O sábado ensolarado não contou com a presença de Rica Amaral, mas houve uma inesquecível seqüência de apresentações: Dimitri Nakov manteve a pista em constante movimento, dando lugar ao set sensual de Julio Navas. Os suecos do Tegma e os dinamarqueses do Flowjob deram uma aula de trance progressivo, seguidos pelo set de Shane Gobi e o live de Shanti, praticamente um residente do festival.
Apresentação rara no Brasil, o Dj japonês Tsuyoshi Suzuki esquentou a madrugada fria de sábado com um set pesado repleto de solos de guitarra. A finalização, com o remix de “Hand that feeds”, do Nine Inch Nails, foi histórica. Os lasers e a lua maravilhosa colaboraram para isso.
O domingo amanheceu com uma sensação de “quero mais”. Muitas pessoas deixavam o acampamento e se dirigiam à saída, onde as vans faziam o trajeto de volta sem muitas complicações.
Sem a presença de Feio, o público dançou ao live sério de JP, que abriu para o dançante Triptych. Jota, que tocou em seguida, manteve a pista em polvorosa para a excelente apresentação do The Commercial Hippies. Dahan baixou os BPMs, abrindo para a impecável apresentação da Dj Tati.
A preocupação com a qualidade musical também foi expressa através do chill out. Sem a exuberância decorativa da pista principal, composto somente por grandes flores localizadas ao centro, o espaço possuía esteiras e almofadas coloridas para estimular o relaxamento dos participantes.
Com a abertura de Murilo Ganesh, o chill out recebeu apresentações de artistas das mais diversas vertentes, caminhando entre o dub, o ambient, funk, soul e o melhor em música experimental.
O grupo Pedra Branca, sempre muito aguardado pelo público, tocou com atraso no terceiro dia, devido a problemas com vôos. Mesmo assim, muitas pessoas se reuniram para acompanhar a apresentação envolvente do grupo.
Outro destaque do chill out foi a apresentação dos percussionistas da Tribo Espiral, que falaram sobre os princípios da religião rastafári enquanto contagiavam o público com seus instrumentos. O Dj Smurf, responsável pela organização artística do espaço, tocou no último dia um set repleto de muito groove, funk e jazz.
Com uma numerosa equipe de funcionários, que trabalhavam com afinco na limpeza das pistas e praça de alimentação, na manutenção e limpeza dos banheiros e fazendo a segurança do local (reforçada com a presença em massa da polícia), ficou provada a preocupação dos núcleos organizadores – Trance Movement, Kaballah, Euphoria e Psico Trance – com o conforto do público presente.
Durante todo o tempo, a praça de alimentação manteve-se abastecida e sem filas, assim como os caixas e bares . Com uma boa variedade de alimentos e bebidas, o festival não deixou a desejar em nenhum aspecto. Inclusive no que se refere ao impacto ambiental: com a coleta seletiva, muitos funcionários separavam o lixo reciclável e acumulavam toneladas de latas, papéis e copos plásticos.
Houve também uma série de palestras educativas sobre os mais diversos temas, filmes e documentários sobre a existência humana e muitas atividades culturais que permearam o festival. O tempo todo, era visível a satisfação do público em estar ali. Cerca de 2.500 pessoas interagiram na mais perfeita paz durante os quatro dias.
Em um recente levantamento, foi verificado que Minas Gerais é o estado brasileiro com mais festas rave por mês, depois de São Paulo. Mesmo que as festas trance não tenham surgido em Minas Gerais, e mesmo que o estado tenha ficado fora do eixo das grandes festas, aos poucos foi conquistando espaço e hoje se consolida como um importante centro de produção e divulgação da música eletrônica no Brasil.
Isto só foi possível graças à essência da população mineira, graças à preocupação com o bem-estar e à tranqüilidade perceptível em cada funcionário atencioso, a cada motorista de van que se divertia com as brincadeiras nas idas e voltas para a portaria.
O maior exemplo desta simplicidade é o Sr. Onelvino Coelho, o dono da fazenda Cachoeira Alta. O ex-tropeiro de 83 anos passava despercebido entre os participantes do festival, mas esteve lá durante o tempo todo. Simpático, circulava com sua Brasília amarela pelas estradas de terra, daquela que é a sua terra, mas que gentilmente ele concede há mais de quatro anos para a realização deste encontro alternativo mais que especial.
Fotos por P.H. Schneider. Mais aqui.

quarta-feira, junho 06, 2007

Enquanto isso, no barbeiro...

Acabo de conhecer e escutar o virtual barbershop, arquivo de som que reproduz fielmente a sensação de se estar sentado numa cadeira de barbeiro.

Descobri que isso se chama sonorização em 3D, e que é muito utilizada em cinema há alguns anos. Vi também que a técnica chama-se binatural recording, uma forma diferente de se capturar e reproduzir o áudio.

É só colocar um fone de ouvido que tenha um mínimo de potência (para que o som fique mais limpo e próximo do real) e fechar bem os olhos.

Ah! antes disso clique aqui.

Divirta-se!

segunda-feira, junho 04, 2007

A TPM e o viking do agreste pernambucano

Andava pela casa de um lado pro outro. Sentia-se sozinha, mesmo rodeada de familiares. Sensação estranha de não ter ninguém por perto. Uma tristeza vinda sabe-se lá de onde não permitia a concentração. E então, ela extravasou por onde menos poderia. Não tinha direito de ser egoísta naquele momento, de pensar só no seu ego ou de interferir na ordem natural das coisas.

Dessa vez ela pensou bem antes de explodir. E depois que explodiu, concluiu que mesmo assim poderia ter pensado um pouco mais, e que não faria de novo se pudesse voltar. Mas já era tarde. E o arrependimento é o mais cruel dos sentimentos, corrói internamente.

Aí, entrou no blog do seu músico preferido, e leu:

poética, algo, dias...
desapego...
medida exata que meus olhos viram
vi você por dentro, abro meu portal de erudição
que depois de tempos
viveu viveu

não te esperei muito
se é que você voltou na mesma rua...
tão perto do imaginário minha cabeça roda vento
e todo meu pensamento
ele sabe
ajusta com o planetário
ofusca e nem sobra o medo
e todo esse desespero
exagero...
do fogo do coração.

Demorou pra lançar o cd novo, Otto. Antes que ela pire de vez e não esteja mais aqui pra ouvi-lo quando ele sair. Rs. Desespero, exagero, é sim, tudo isso.