segunda-feira, julho 02, 2007

A Graça da Vida

A vida tem muita graça, mas a gente só passa a percebê-la e valorizá-la de verdade quando alguma coisa de ruim acontece. E como a arte imita a vida (neste caso, literalmente), é assim também com Kate e Grace Griswald (Graziella Moretto e Nathalia Timberg) na peça "A graça da vida", dirigida por Aimar Labaki.
A estória fala da relação de amor entre mãe e filha, fortalecida depois da descoberta do mal de Alzheimer em Grace. O contato com o sentimento de perda, o desapego, as dificuldades em aceitar que uma pessoa próxima definhe aos poucos foram algumas das questões tratadas no espetáculo, que consegue ser engraçadíssimo e dramático ao mesmo tempo.
Entre risos e lágrimas, interpretações absolutamente perfeitas de todos os atores, que caminharam com desenvoltura pela comédia e pelo drama. Nathalia Timberg, alternando os estados de saúde e doença (em que ficava somente sentada, imóvel, com o olhar perdido), emocionou. Grazi Moretto (que também é a produtora da peça) trouxe um humor inteligente e sarcástico - além de ser linda. Emilio Orciollo Netto, na pele do médico Sam, transmitiu segurança e mostrou que tem talento também para o teatro (só tinha o visto pela TV).
O elenco se completa com Clara Carvalho, engraçadíssima como a perua-atriz Madge; Ênio Gonçalves, como Jack, o marido fraco e submisso de Grace que depois revela sua sexualidade enrustida durante anos, está impecável; Eliana Rocha está muito bem no papel de Lorna, a galinha de meia idade que conquista Jack durante uma viagem; e Fábio Azevedo, divertido e espevitado como Marty, assistente de Kate.
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Kate é uma produtora de televisão que vive atribulada com o programa para o qual escreve. Mal tem tempo de ver seus pais, Grace e Jack. Um dia, Grace liga para a filha dizendo que há "homens estranhos pela casa", e Kate percebe que algo de grave está acontecendo. Leva a mãe ao médico, Samuel, que diagnostica o mal de Alzheimer.
A partir daí, o que se segue é a luta da filha para recuperar a dignidade da mãe, que aos poucos vai perdendo as células de seu cérebro, e não mais conversa, nem se move. O tratamento é doloroso, até que o surgimento de um novo remédio anima o médico e a filha. Ambos acompanham com entusiasmo a recuperação de Grace, que volta a andar, conversar e palpitar em tudo - as coisas voltavam ao normal, afinal. Pelo menos por um tempo.
Mais do que uma estória sobre vida e morte, "A Graça da Vida" toca profundamente em questões sentimentais. São fatos reais, escritos por Trish Vradenburg sobre sua mãe. Uma estória de luta pela vida, da busca por pequenos momentos de alegria quando já não há mais tanta esperança. Da valorização do que temos de mais precioso, mesmo que essa consciência só tenha surgido diante do sentimento de perda.

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Serviço
A partir de 29 de junho no Teatro Vivo
Av. Dr. Chucri Zaidan, 860 - Morumbi
Tel.: (11) 3188-4141
Horários: Sextas às 21h30, Sábados às 21h00 e Domigos às 18h00
Ingressos: R$ 50,00 - inteira e R$25,00 - meia

2 comentários:

  1. Anônimo9:58 AM

    Obrigada Mari,
    pelo carinho e pelo texto super bacana! Quem dera os críticos fossem assim tão generosos!

    Beijoca e até breve

    Grazi

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  2. Anônimo9:58 AM

    Eu ainda aprendo :P

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