quinta-feira, maio 17, 2007

O dia em que levei meu pai pra conhecer seus ídolos

"Hoje você conheceu um pouco mais sobre o seu pai. Foi meu dia de glória". E a filha ganhou o dia.









Chegaram à estação São Bento por volta das 12h30. Pai com o disco do Premeditando o Breque na mão, filha com o do Língua de Trapo. "Vou ver se eles assinam", ele disse. E a menina não sabia nem o que falar. Esteve no mesmo local, no dia anterior, e a experiência com o show do Teatro Mágico e milhares de pessoas se apertando fez com que ela quase tentasse impedi-lo de levar os discos. Mas havia de ser diferente, e ela prometeu a si mesma que faria o impossível para conseguir os autógrafos.

O Premê tinha entrado às 12h00, e para alegria de pai e filha o Boulevard São João não tinha um vigésimo do público do dia anterior. A voz de Wandi, já conhecida por suas diversas participações em trilhas dos programas da Tv Cultura, gritava: "Que legal!" Era Fim de semana, uma das únicas músicas que a filha conhecia do grupo. O som animado, com instrumentos de corda tocados com perfeição pelo Manga, o Claus ("esse cara sempre foi boa pinta") tocando flauta e o Marcelo, alternando teclado e cavaquinho, fizeram o público (quarentão, diga-se de passagem) vibrar.

Seguiram com seu estilo humorístico, com músicas como Jacaré também é gente - marchinha de carnaval versão reggae -, Pinga com limão e a engraçadíssima versão da música Give it away, do Red Hot Chilli Peppers ("a gente fez uma música, mas sabe como é né, passaram uns gringos aí e levaram embora).

O pai lá, levantando a capa do disco, balançando de um lado para o outro como quem diz: "olha eu aqui! Fã das antigas!". Foi quando Wandi, com seu jeito característico, anunciou: "estão vendo este disco que está na mão do nosso amigo? Nós vamos cantar uma música deste disco! Em show tem sempre aquela coisa de pedirem pra tocar um sucesso, sabe? E pra gente é fácil, a gente só tem um!"

E começaram a tocar a bela São Paulo, São Paulo, que inclusive foi eleita uma das três músicas que melhor representam a cidade. O pai ficou eufórico, eles o tinham notado! E a filha já se preparou para correr para o camarim assim que o show acabasse.

Um a um, foram descendo do palco e entrando no camarim. Pai e filha ansiosos, vinil e caneta na mão. Wandi caminha em sua direção, o pai acena. “Rapaz, mas você me aparece com esta relíquia!” Todos assinam e agradecem o apoio e a admiração do pai. A filha o abraça, sensação de missão cumprida.

Mais um show estava pra começar. Virada Cultural é assim mesmo, gente. É coisa boa atrás de coisa boa. E os dois se posicionaram em frente ao palco, pra poder ver o Língua de Trapo bem de perto.

Com um humor mais crítico, e sem alguns dos integrantes da formação original, o Língua subiu ao palco liderado por Laert. “Olha, é esse aqui”, disse o pai, mostrando a contracapa do vinil.

E o outro show surpreende da mesma forma. “Nossa pai, hoje em dia não vejo nenhuma banda que faça músicas assim, criticando a sociedade”. E o grupo não se resume a criticar, a satirizar: todos os músicos são muito bons. E eram muitos! O palco literalmente “ficou pequeno” pra banda, que, muito afinada e ensaiada, tocou os sucessos do “Disco azul” (de 1982, foto), o primeiro dos sete que lançaram em toda a carreira.

Entre uma música e outra, o pai levantava o vinil, e Laert anunciava: “essas são as músicas de nosso Disco Azul, esse aí, na mão do nosso amigo”. E a galera aplaudia. Ao final do show, mais autógrafos.

“Foi meu dia de fama e de glória”, o pai disse. E, mesmo com dor de garganta, chamou a filha pra tomar uma cerveja: “os caras merecem”.

Merecem.

5 comentários:

  1. Anônimo9:33 AM

    Emocionante, de novo.

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  2. Anônimo1:56 PM

    Oi Mari,
    Estava no blog do Diego e achei o link pro seu.
    Curti sua história com seu pai!!! O máximo isso!!!
    Bjo

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  3. Anônimo6:45 PM

    Filha, obrigado pela companhia e pelas belas palavras. Fiquei realmente emocionado. Revivi os grandes momentos dos shows no seu relato. Realmente, os dois grupos fazem parte de uma época de ouro da minha vida. Valeu!!!!!!!!!!!!!!!

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  4. Poxa Mari!!! Q máximo!!! Adorei o programa de vocês!!! Coisa muito boa!!!
    Bjão
    Daniel

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  5. Anônimo7:49 PM

    Lalá.. eu não estava esse dia. Mas tenho que confessar que ao ler o seu relato, lágrimas de emoção escorreram no meu rosto. Como sempre, um texto impecável, resultado de uma grande profissional com certeza inspirada.
    Um texto não apenas perfeito, como emocionante, relatando uma história que poucos podem e conseguem viver ao lado de um pai.
    Parabéns...pelo texto, pelo dia, e principalmente pela pessoa que você é, que tão surpreendentemente impressiona a todos...dia após dia!
    Te amo

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