terça-feira, março 06, 2007

Mais Gabo

Quando escrevi sobre "Cem anos de Solidão", o primeiro que li de Gabriel García Márquez (emprestado pela Cá), terminei com um "até a próxima", porque me encantei com a forma dele de escrever. Pouco depois, outro grande amigo (Diego) me emprestou "Relato de um náufrago", de 1970, também de Gabo. O que seria de mim sem meus amigos?

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Imagine um navio da marinha colombiana, que partia dos Estados Unidos em direção à Cartagena, na Colômbia. Estando a poucas horas de chegar ao seu destino final, o destróier tomba por causa de um vento forte, e da pesada mercadoria que carregava.

Alguns membros da tripulação caem ao mar, e todos morrem, com exceção de Luiz Alejandro Velasco. Este encontra um bote - chamado de balsa no livro - e consegue alcançá-lo, passando nele dez dias sem comida nem água.

Munido apenas de seu relógio e da roupa do corpo, o homem narra sua história, contando como lidou com a fome, a sede, o calor do sol e os devaneios psicológicos que isso começou a causar.

A cada dia, novos desafios surgiram, como a presença dos tubarões que chegavam pontualmente às 17h00 e os ventos fortes que chegaram a virar a balsa. Depois de um tempo, Velasco não quer mais lutar por sua vida, e a cada desistência um novo estímulo aparece para renovar-lhe as esperanças.

Ao décimo dia, o marinheiro avista terra firme, e mesmo sem forças, nada cerca de dois quilômetros para atingi-la. É, então, encontrado pela população de um pequeno vilarejo, e torna-se em pouco tempo herói de seu país.

Quando retorna a Cartagena, o homem é isolado em um hospital naval e proibido de falar com jornalistas. Depois de recuperado, passa a protagonizar anúncios dos mais diversos produtos, aproveitando-se de sua história e sua posição. E assim termina o livro.

Isso até daria um bom filme (aliás, o tema já rendeu um bom filme, o famoso "Náufrago", com o Tom Hanks). Mas... neste caso, trata-se de uma história real. (óóóhhh)

Tempos depois de fazer todo tipo de propaganda, quando o público já estava cansado de saber de suas histórias, Luiz Alejandro Velasco procurou a redação do jornal El Espectador, onde Gabriel G. Márquez trabalhava como repórter. Disse que queria contar seu relato para publicação no jornal, que na época buscava assuntos interessantes que fugissem de política (pois o país estava sob a ditadura de Gustavo Rojas Pinilla, que censurava a imprensa, claro).

O editor do jornal resolveu aceitar a proposta, e durante vinte dias, Gabo escutou detalhadamente os causos do náufrago.... e o mais legal da história vem depois de tudo isso.

Durante os encontros de G.G.M. com o rapaz, descobriu-se que, ao contrário do que a imprensa vinha divulgando até então, não houvera uma tormenta que derrubara a embarcação, mas sim, o destróier tombara por causa do excesso de peso.

O detalhe é que a tripulação encheu o navio de eletrodomésticos para suas famílias, ou seja, mercadoria ilegal, já que não se poderia colocar tanto peso em um destróier.

Nem preciso dizer que o governo não gostou nada que a verdade fosse mostrada! Com a divulgação dos reais fatos no El Espectador, o ex-herói perdeu seu posto, e Gabo ganhou de brinde um exílio.

Na introdução, o escritor diz que não consegue entender a utilidade em publicar este relato em forma de livro. Critica também os editores, que em sua opinião insistiram em publicá-lo somente por ele ser um escritor da moda.

Picuinhas à parte, "Relatos de um Náufrago" é jornalismo literário puro. E mostra mais uma vez o valor deste que se tornou meu escritor preferido.

Um comentário:

  1. O bom de passar por aqui é a certeza de que vou aprender algo novo e de que vou gostar do que vi =)
    bjão!!!

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