sexta-feira, outubro 03, 2008

Parque Nacional, 4 de julho, 8 horas da manhã.

Até por volta de 1950, a região do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros era tomada por buracos feitos por garimpeiros em busca de cristais. Com a chegada de Juscelino Kubitschek ao poder, o local tornou-se parque nacional e os buracos foram desativados.

Desde então, os garimpeiros tornaram-se guias turísticos, e formaram a comunidade de São Jorge, vizinha a Alto Paraíso. Hoje, o parque serve de modelo para os outros tantos do Brasil, e estudiosos do mundo todo viajam até lá para conhecer a organização do lugar e também, é claro, para explorar as belezas naturais.

Para desbravar o parque, existem duas trilhas: Saltos e Cânions, com três quedas cada uma. Só se pode escolher uma trilha por dia, já que não se pode ficar no local depois das 17 horas. Também não é possível entrar depois do meio-dia (não dá tempo de fazer a trilha inteira).

Há um número limite de pessoas em cada trilha, e só é permitido fazer quaisquer dos passeios acompanhado por um guia credenciado. Por isso, fomos ao Centro de Atendimento ao Turismo buscar algum guia que tivesse um requisito: caber na cabine estendida do carro. A funcionária nos passou o contato de Hananda, uma menina pequena o suficiente para caber na parte de trás, e esperta o bastante para nos conduzir pela Trilha dos Cânions, a escolhida para aquele dia. Só pra variar, não havia uma nuvem no céu.

Percorremos a espetacular trilha sobre cristais de quartzo branco. Toda a extensão da trilha é forrada por cristais, lindo de se ver. Dizem até que, se olhar uma foto de satélite ali da região, aquele lugar emana uma luz branca lindíssima. Passamos por diversos buracos de garimpo desativados, e por plantas que jamais imaginei conhecer (como essa plantinha carnívora aí do lado).

“O cerrado corresponde a 33% da biodiversidade brasileira”, dizia a placa. E logo em seguida, fomos apresentados a uma espécie de árvore super interessante, da qual infelizmente não lembro o nome. Dela nasce uma frutinha saborosa, mas que se você comer demais causa dor no estômago. Mas não se preocupe: das folhas dessa mesma árvore, faz-se um chá que, curiosamente, é tiro-e-queda para dor de estômago. Pode essa natureza ser mais perfeita?

Passamos também por pedras com uns líquens coloridos: roxo, cor-de-laranja, amarelo (veja foto)... da primeira vez que eu vi, cheguei até a pensar que poderia ser algum tipo de vandalismo, porque as cores eram tão fortes que parecia tinta. Hananda explicou que esses líquens só nascem em locais em que o ar é extremamente puro. Oba, virou regra: toda vez que passava por uma pedra daquelas, respirava fundo...

A primeira queda a que se chega é a Cachoeira das Carioquinhas (foto). Diz a lenda que duas cariocas desbravavam a região quando encontraram esta belíssima queda. E assim ficou o nome. Um mergulho gelado e delicioso, alguns minutos de descanso, e seguimos o passeio até chegar ao Cânion 2.

Era uma grande piscina natural, com duas plataformas para quem se arriscasse a pular (eu pulei das duas – frio na barriga master hehe) e um corredor ladeado por paredões de água que, nessa época da seca, dá pra nadar e ver de baixo, tranquilamente. Fiquei boiando naquela água e pensando no privilégio que é poder fazer pelo menos uma viagem desta por ano.

E seguimos para a terceira e última parada: Cânion 1. Este fica fechado na época das chuvas, mas neste período dá pra sentar na parte de cima e ficar admirando os paredões. Neste último, não há jeito de mergulhar, só de contemplar (foto).

Importante lembrar que cada parada dentro do parque possui dois bombeiros, o que reforça a sensação de segurança e de organização. Ah, sim! E paga-se a simbólica taxa de R$ 3,00 para entrar, além da diária do guia, fixada em R$ 60,00.

Felizes e cansados, chegamos novamente à entrada do parque. Já na volta, conversando com Hananda, demonstramos nossa vontade de ver araras. Então, ela nos contou sobre um casal de araras que se alojou em uns troncos mortos de buriti para ter seus filhotes, e tiveram três mas, em vez de seguir caminho, elas se estabeleceram ali, e de lá não saíram. Passamos em frente, paramos o carro (era bem próximo à estrada), mas nada delas.

Não desistimos. Passaríamos em frente todos os dias, até conseguir vê-las. Mal sabíamos nós das espetaculares surpresas do dia seguinte.

Fotos: PH Schneider

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