quinta-feira, março 20, 2008

Quem saberá a cura se não eu

Tudo começou no dia 15 de novembro do ano passado. Estávamos no Ipiranga, sentindo aquele cheiro gostoso de carro novo e tendo a difícil função de escolher um modelo confortável, minimamente equipado, bonito e dentro das possibilidades financeiras.

Por fim escolhemos, mas eu sabia que não seria o suficiente para quebrar aquela muralha dentro de mim. Sempre tive muito medo de dirigir, ou pelo menos achava que tinha. A simples possibilidade de pilotar um carro já me causava os sintomas básicos do pânico: pernas tremendo, mãos suando, coração acelerado...

Como pessoa aficionada por listas, fiz a minha relação de objetivos para 2008, que incluía desde coisas materiais até metas de comportamento e postura em relação à vida. O primeiro item da lista era: "perder o medo de dirigir". Já estava insustentável ter que depender de outras pessoas para fazer o que quisesse. Um evento no Sesc Pompéia, por exemplo, esquece! Visitar as amigas em um sábado à tarde, só de metrô ou ônibus!

Eu nunca tinha tido coragem de sair sozinha - e veja bem, isso depois de 5 anos de carta - e já estava acostumada com a insegurança minha e dos meus pais. "Fechou, filha, fechou!", diziam eles sobre o farol, que se tornava amarelo dali a 100 metros. "Breca, breca!", muitos e muitos metros antes do carro da frente.

Até que eles viajaram, e o meu carrinho ficou lá, lindo, cheirando a novo, pedindo que eu saísse nele. "Vamos lá, mulher! Uma pessoa que pega a BR-101 e ultrapassa caminhões com AQUELES buracos, AQUELA chuva..."

Foi então que resolvi pegar o carro sozinha pela primeira vez. Nunca vou esquecer: foi no dia 8 de fevereiro. Confesso que não dormi muito bem na noite anterior, pensando no que me aguardava, refazendo o trajeto na cabeça... sim, porque além do medo de dirigir, tinha (e tenho) o agravante de não ter NENHUM senso de direção!

Antes de sair, separei o primeiro cd do Otto: "é você quem vai me acompanhar nessa, meu querido". Respirei fundo, ajeitei os espelhos, liguei o som baixinho pra não me atrapalhar e liguei o carro.

Só sei que as minhas pernas não tremeram naquele dia. Nem o coração ficou acelerado, nem as mãos suaram. Tranquilamente, percorri os quilômetros que separam minha casa do escritório, enfrentando toda sorte de problemas: inconseqüente na contra-mão, ambulância, trânsito paradíssimo... entrei no prédio como se subisse num pódio: "é a primeira etapa, e eu venci".

A partir daquele dia, percebi que não tinha mais medo. Vi que toda aquela insegurança e aquele medo eram fantasmas, que eu exorcizava ao som de "o celular de Naná é a lua/a lua é o celular de Naná"...

Agora eu venho de carro todos os dias, e já consigo trocar de CD e passar batom enquanto dirijo (periiiigo...). É, ainda faço umas barbeiragens - lógico - mas também, não tinha especificado nada disso no desejo de ano novo!

3 comentários:

  1. Anônimo12:16 AM

    te entendo PERFEITAMENTE... =)
    e te digo mais: vc conseguiu riscar isso da sua lista antes de mim...rs
    beijo!

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  2. Anônimo11:37 AM

    Mariiii!!!! Que legal ler isso!!!!
    Fico tão feliz por você!!!!
    Também preciso superar esse medo e me identifiquei com suas angustias pré-direção. Menina, eu sinto a mesma coisa!!!!
    Uma psicóloga já me disse pra dirigir sozinha, sem ninguém. Ela acha que o problema está na 'vergonha' que sentimos... tipo medo de decepcionar... sei lá! Amei o texto! Parabéns!

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  3. Anônimo12:03 PM

    Espero ter cotribuído na perda de seu medo de dirigir! POis um dia antes de você sair sozinha, fizemos o trajeto "casa-escritório", para você aprender!

    bjos e continue firme, pois você já esta´dirigindo melhor que MUITA gente!

    PH

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