Em terceiro lugar: meu irmão, então com 2 anos e meio, vendo minha mãe sair de casa com uma barriga enorme e voltando com um bebê no colo:
- Mãe, onde fica o seu zíper?
Em segundo lugar: minhas primas, então com 6 e 8 anos, me contando as novidades:
- Sabe Mari, agora nós estamos fazendo aula de compitador!
- Não seja burra, Isadora, não é compitador. É MICRO compitador!
E em primeiríssimo lugar: o filho do caseiro, jogando bola com os meninos, e tomando uma bolada na barriga:
- Ai, meu imbigo!
- Não é com I menino, é com U!
- Ai, meu IMBUGO!
quarta-feira, setembro 19, 2007
terça-feira, setembro 18, 2007
A fita cassete paralela
Alice era uma garota muito esperta, até demais para a sua idade. Sempre que olhava pra ela, estava quieta, observando, pra dali a pouco soltar uma de suas célebres perguntas. Outro dia lançou: "mamãe, mas por que sessão de cinema é com dois esses e seção de supermercado é com cedilha?"E eu, que não gosto de responder qualquer coisa, ficava pensando na melhor maneira de responder àquelas questões que nem eu mesma sabia solucionar.
Um dia, Alice me pediu que a inscrevesse em um curso de catecismo. Aregalou seus olhinhos cor de mel e disse: "Quero fazer a primeira comunhão, mamãe, assim como a Celeste da minha escola". Eu não a batizei e nunca a forcei a nada, então resolvi levá-la.
***
Desde que mamãe me colocou na catequese, aprendi muita coisa. Hoje, a professora me disse que Maria engravidou sem ter tido nenhum tipo de relação com homem, e dela nasceu Jesus. Eu não entendi nada, e perguntei se haveria alguma possibilidade de eu ter um neném assim, igual à Maria, como num passe de mágica. A turma toda riu, mas a professora não. E ela ficou brava, eu acho, porque pegou uma varinha e me bateu nas costas da mão.
Eu só sei que, depois que aprendi a rezar o pai-nosso, ele não sai da minha cabeça. Primeiro era o Pai, o Filho e o Espirito Santo, pra depois virar a oração inteira. Sei lá, a sensação que tenho é a de que há duas fitas cassete rodando dentro da minha mente. Antes tinha uma só, que ia rodando os pensamentos que se passavam pela minha cabeça, as coisas que eu lia e escutava, até aquelas músicas que de vez em quando não desgrudam, mas agora são duas.
Em uma delas, fica passando o pai-nosso, e na outra, as coisas normais. Confesso que isso me incomoda, sabe. Não que eu não goste da oração, muito pelo contrário! Até acho que ela é bem simpática. Só que, tem horas, que ela começa a tocar mais alto do que a fita original, e eu não consigo me concentrar no que estou fazendo. Poxa, gosto tanto de ler, mas muitas vezes não consigo por causa desta fita que surgiu e ficou.
Deve haver uma forma de tirá-la de dentro da minha mente. Talvez como num passe de mágica, assim como foi a gravidez de Maria! É, preciso pensar em uma forma de desligar essa fita. Deve haver um pause que seja, quem sabe até um stop. Só o que eu não posso é perguntar isso pra professora, vai que levo mais uma varinhada na mão. Bom, tentemos a mamãe...
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