domingo, abril 13, 2008

Um dia desses, num desses encontros casuais

- Moça! Moça! Bom dia!
- Bom dia.
- Posso falar com a senhora um minuto?
- Eu não posso perder o ônibus, se você quiser me acompanhar até o ponto pode vir.
- Já que a senhora está falando, então eu vou.
- Não me chama de senhora.
- Tudo bem. É o seguinte, meu nome é Márcio e eu tenho 27 anos. Você mora por aqui?
- Moro.
- Então, eu moro embaixo daquele viaduto. Eu, minha esposa e minha filha Beatriz, de dois anos. Ela é a coisa mais linda do mundo, moça.
- Sei.
- Então, eu já fui até analista na Embraer, mas acabei caindo nas drogas e fui preso.
- Preso por que?
- Assalto à mão armada.
- Hmm.
- Mas agora eu estou solto, e preciso dar de comer pra minha filha.
- É, eu já fui assaltada. Complicado... essas coisas podem traumatizar uma pessoa. Será que você se arrependeu do que fez?
- Muito, moça.
- Então menos mal, pelo menos pagou pelas coisas que fez. Toma - entregando uma nota de R$1.
- Obrigado. Mas, infelizmente, a minha sentença já foi dada - finalizou, triste, mostrando as feridas que se espalhavam pelos braços e pernas, decorrentes do HIV. E saiu.

Chorando, a moça seguiu seu caminho, sem saber a quem culpar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sinta-se em casa