quarta-feira, janeiro 09, 2008

Virada Paralela

Pista principal, palco ao fundo

Em meio à atual crise conceitual em que a cena trance brasileira se encontra, houve quem acreditasse que a oitava edição do festival de arte e cultura alternativa Universo Paralello (que aconteceu de 27 de dezembro a 4 de janeiro em Pratigi, na Bahia) não escaparia da finalidade estritamente comercial que tem rondado as festas nos últimos tempos.

O crescimento desordenado foi um dos fatores que gerou esta crise e, segundo Alok, um dos organizadores do U.P., "na realidade crescemos muito pouco como cena Trance genuína. O que cresceu foi a utilização do formato por gente pouco comprometida com o movimento, somada à utilização de um conceito barato e musicalmente questionável que acabou causando o inchaço disto que pode ser chamado mais de mercado do que exatamente de cena”.

Porém, em vez de seguir esta infeliz tendência, colocando em risco o divertimento e o conforto dos participantes, a organização optou por profissionalizar e aprimorar ainda mais o evento, oferecendo uma estrutura jamais antes vista em um festival no Brasil.

Eram três campings – cada um com sua própria área de banho e sanitários – mais de 40 opções de alimentação, tenda infantil com monitores especializados, espaço multicultural e cinco ambientes musicais:

Main Floor
Formada por muitas tendas coloridas que ofereciam sombra, e com o palco repleto de imagens de deuses indianos, a pista principal teve início na manhã do dia 29 de dezembro com o live da produtora Vixen. Nele se apresentaram ícones da cena trance mundial, como Etnica (Itália), Tristan (Inglaterra), Xerox & Illumination (Israel) e Kox Box (Dinamarca), além de projetos nacionais e alguns estreantes, como Logica (de Alok e Bhaskar), e 28 (formado por Shove e Pedrão). Na virada do ano, o sul africano Shane Gobi mostrou uma seleção impecável de músicas.

Pista Alternativa
Direcionado para as vertentes menos aceleradas da música eletrônica, como o house, minimal e electro, este espaço possuía um grande barco de madeira em que se podia subir para dançar. Por ele, passaram os brasileiros Claudio Brio e Act Sense e o dinamarquês Jokke, dentre muitas outras atrações.

Palco Paralello
Espaço totalmente dedicado à exposição do trabalho de bandas regionais, o mais brasileiro dos palcos contou com apresentações diferenciadas, como o grupo paraibano Cabruera, os mineiros do Sete Estrelo e até o projeto Benzina, de Edgard Scandurra. No penúltimo dia, Liquidus Ambiento e Pedra Branca reuniram um grande número de pessoas sob a grande cúpula cor de laranja.

Pista Goa
Verdadeiro laboratório musical que integrou “dinossauros” da cena e novatos, a pista Goa foi criada para proporcionar uma experiência diferente, que relembrasse as primeiras festas no Brasil. Por isso, decoração, sistema de som e seleção de artistas foram cuidadosamente projetados. Gramado e um pouco mais protegido da brisa marítima, era um local extremamente agradável, com sombra e duchas. O set de Goa Trance executado em vinil por Rica Amaral, no terceiro dia, assim como a apresentação do sueco Atmos, foram históricos.

Chill Out
Para boa parte do público, o ambiente mais bonito do festival. Formado por imensas estruturas de bambu e palha – semelhantes a leques –, com tecidos trabalhados e mesas feitas com garrafas pet reaproveitadas, o chill out lembrava uma grande oca. Espaço reservado para o dub, reggae, MPB, jazz, ambient e música experimental em geral, contou com o bom gosto dos DJs brasileiros Schasco, Smurf, Soneca e Ekanta, além da criativa apresentação de Chico Correa & Pocket Band, entre muitos outros artistas.

Valorizando o conceito de psicodelia ao misturar estilos musicais, eletrônicos ou orgânicos, o Universo Paralello procurou fazer uma seleção variada. Mesmo com alguns atrasos e desfalques, o line up apresentou artistas competentes e talentosos.

Alok comenta: "o UP sempre traz artistas que estão na ponta da produção musical, muitos deles desconhecidos, o que é bom não só para o festival mas também pra toda a cena, porque nos ajuda a estar atualizados com os passos seguintes do psytrance. O U.P. não é um desfile de nomes de artistas famosos, nacionais ou internacionais. É um festival de arte e cultura alternativa.”

Para tornar este evento possível, houve um forte envolvimento da comunidade local do município de Ituberá, que atuou nos mais diversos serviços, como bares, caixas, limpeza e transporte. Havia também um grande número de seguranças circulando pelos campings, mas mesmo assim houve casos de roubo de barracas para os que não deixaram objetos de valor no guarda-volumes.

A todo o momento, era nítida a importância do festival para a cidade, pois, além de empregar pessoas, o evento atrai o interesse de turistas para a região. Bastava uma rápida conversa com qualquer um dos funcionários para perceber o entusiasmo em estar ali.

“A geração de empregos é um dos objetivos do evento e muitas de nossas estratégias vão nesta direção. Priorizamos sempre que possível a contratação de pessoas da região, e não nos arrependemos nem um minuto. É sempre um imenso prazer termos nossos parceiros de Ituberá, em seus vários níveis de atuação, colaborando com a realização do evento. É uma gente honesta, trabalhadora e com toda a certeza é uma das razões do sucesso do festival"¸ disse Alok.

Um dos ofícios que emprega muitos ituberaenses é a coleta e separação do lixo. Todos os resíduos produzidos no evento são separados e posteriormente vendidos e reciclados.
“Fazemos também o tratamento biológico de todos os dejetos humanos, trabalhando em parceria com quem cuida da gestão de resíduos tóxicos de grandes empresas do Brasil”.

Por todos estes motivos, o Universo Paralello já entrou para o circuito dos principais festivais alternativos do mundo, fato que se comprovou com a presença em massa de visitantes de diversos continentes. Pessoas da Rússia, Peru, Coréia e Holanda, entre outros países, vieram ao Brasil exclusivamente para prestigiar o U.P..

Alok atribui este fato ao sucesso da última edição do evento: "no ano passado causamos um grande impacto no público estrangeiro. A conjunção de um line up sério, um local paradisíaco à beira da praia, a receptividade da comunidade local e o nível de organização e infra-estrutura fez com que muitos levassem a notícia de forma bastante positiva e eles realmente se planejaram para vir ao Brasil neste ano”.

Aproximadamente 10 mil pessoas escolheram esta celebração psicodélica na paradisíaca Praia de Pratigi para comemorar a virada do ano. Com arte, boa música e resgate da essência trance, o Universo Paralello trouxe a esperança de uma virada também conceitual, necessária à cena.

Com Paulo Henrique Schneider (texto e fotos)

2 comentários:

  1. Anônimo10:15 PM

    Parabéns!!!!
    Vc é uma raridade!!!!
    Coisa linda ....bonita e boa!!!!rsrsrsrsr
    bjos 1000da

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  2. Anônimo6:30 PM

    The best event ever!!! Obrigado por me ajudar na cobertura e no review...

    bjos,

    PH

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