sexta-feira, dezembro 16, 2011

Do ausente que incomoda

Um amigo me falou uma vez que, quando a gente escreve sobre alguma coisa, parece que essa coisa se resolve dentro da gente. Principalmente quem não só gosta muito de escrever, mas que sente quase que uma necessidade de por pra fora o que está lá dentro.

Então resolvi escrever, pra ver se resolvia. O problema é que não sei ainda do que se trata. E quando a gente não sabe exatamente o que incomoda, como faz? Daí lembrei de novo daquela frase da Camille Claudel que dizia: "Há sempre algo ausente que me incomoda". Digamos que não há SEMPRE algo que incomoda, mas o fato é que há algo. E ele me incomoda, é obscuro, como um calinho na memória que a gente não sabe bem o que causou.

Quem sabe escrevendo o que vem à cabeça, estas palavras que digito loucamente agora, eu possa ler daqui a algum tempo e entender o que acontece. Nem que seja pra dizer: "mas que idiota", que é um pouco como me sinto sempre que leio um de meus textos. Engraçado que nunca parece que fui eu que escrevi. E não foi um espírito que baixou (tipo o Blogs do Além, do Vitor Knijnik), fui eu mesma. Mas depois, parece que não sei. Que não fui eu. Ou, se tiver sido eu, "mas que idiota".

O fato é que parece que existe uma instabilidade dentro de mim. A impressão é a de que todos os aspectos da minha vida estão mudando, e sem intervalos. Mudam absolutamente em todos os minutos, numa crescente de aprendizado e amadurecimento. Mas um amadurecimento que não traz serenidade, pelo contrário! Traz inquietude, medo do que pode vir pela frente, medo de aceitar os próprios sentimentos.

Eu, que amo e odeio a rotina com a mesma intensidade. Porque gosto de ter o controle das coisas - traço típico de leoninos -, de saber o que vem agora, o que vai acontecer amanhã, sensação de pilotar a própria vida e muitas vezes as dos outros. Odeio com a mesma intensidade, pela solidão que sinto quando não acontece nada de novo, pelo encantamento que me causam as surpresas. Porque essa instabilidade pode ser boa também, é uma inquietude que traz frio na barriga, aquele medo do que pode vir pela frente, mas com uma sensação de que pode ser sim muito bom, por que não? Vai do otimismo da pessoa, ou do estado de espírito.

Sensação de que, aos poucos, me desprego de quem eu sou de verdade, deixando uma essência lá atrás, como uma cobra que troca de pele e deixa seu passado perdido em algum lugar. Aquela que dava valor a tantas outras coisas que agora não fazem o menor sentido, e que por sua vez deram lugar a outras que outrora eram inimagináveis... alguma delas é a certa, será?

Não sei. Parece que venho perdendo a minha força. Eu, que sempre fui forte, de repente perco essa força junto com a pele que ficou lá atrás. E perco consequentemente a capacidade de estabelecer limites nas mais diversas situações. A mim, às outras pessoas. E, nesse mundão de meu Deus, não saber estabelecer limites é quase como pedir que abusem da sua capacidade. Física e mental. Me vejo frágil, sensível, debilitada. Física e mentalmente.

Mas não perdi a fé vida, ainda que saiba que a fé vai precisar de um bocado de atitude no pacote, pra ajudar a mudar alguma coisa.

terça-feira, agosto 23, 2011

Ação!

Poucas coisas me estimulam tanto quanto a sede por conhecimentos novos. Desde pequena, sempre fui muito curiosa - em vez de brincar com as bonecas, arrancava seus braços e pernas para saber como eram feitas, e intrigava meus pais, tirando as teclas do controle remoto e da calculadora pra olhar ali dentro e saber como era - e vira-e-mexe era surpreendida num cantinho, lendo algum livro, com 6 anos de idade.

Essa busca me levou a uma série de atitudes ao longo da vida. Uma delas foi estudar jornalismo, onde eu aprendi a questionar ainda mais as coisas, e mais do que isso: aprendi a formular as perguntas certas para descobrir o que eu queria saber. O jornalismo me tornou uma pessoa ainda mais curiosa e sedenta por informações sobre os mais variados temas. Informações e experiências novas, que me mantiveram viva e ativa durante durante esta fase.

A curiosidade, aliada à busca por estas novas experiências, também foi o que me fez deixar a Neotix, cerca de 2 meses atrás, e 5 anos depois de ter começado a caminhada junto aos meninos. Hoje temos quilômetros de histórias pra contar, os quais eu guardo com carinho em um capítulo muito importante da minha vida.

Em junho de 2011, comecei uma nova experiência junto à Energy - Y&R. Estava ali o desafio que eu queria: o de estar em uma agência grande, com estrutura de empresa e flexibilidade (leia-se: entrar não muito tarde e sair muito muito tarde) de agência. Foi novidade atrás de novidade desde este turbulento começo. Sim, turbulento porque eu acabava de deixar a zona máxima de conforto para entrar num mundo totalmente novo, com novos colegas, clientes e projetos. No início, mal sabia o nome e as funções das pessoas, e aos poucos fui identificando os papéis e perfis dali.

Neste final de semana, pela primeira vez, acompanhei as filmagens de uma campanha que estou fazendo. Mesmo com o frio que estava e a chuva que insistia em cair, acompanhamos as gravações no sábado, domingo e segunda-feira. Fiquei maravilhada de verdade com o trabalho da produtora, com a quantidade de profissionais envolvidos em uma produção relativamente simples como essa, e o mais incrível - como as coisas funcionam bem! É engraçado pensar que tanta gente pode se entender tão bem: basta que cada um saiba o seu papel e o execute corretamente. Não tem segredo.

Eu não tinha a obrigação profissional de acompanhar as filmagens. Claro, era de bom tom que eu desse pelo menos uma olhada em como estavam indo as coisas. Mas fiz questão de estar presente todos os dias. Cada grito de "Ação!" ou "Corta!" do diretor me traziam pra um mundo totalmente novo até então. A sensação de gravar no meio da 23 de Maio, bem em frente ao Obelisco, ou ainda de encher a Hot Hot com equipamentos e criar um restaurante lindo lá dentro, me trouxeram um vigor diferente.

Uma sensação nova, a percepção de que o mundo lá fora é tão grande, cheio de possibilidades e pessoas interessantes, e que às vezes a gente fica fechado numa bolha sem nem imaginar que certas coisas são possíveis. É preciso se mexer um pouco nesta busca por novidades, experiências, e consequentemente, crescimento.

AÇÃO!

segunda-feira, agosto 15, 2011

Às margens do Ipiranga

Sábado foi dia de levar meu carro para colocar acessórios. Sim, ele tem um ano e eu ainda tinha que abrir os vidros na “manivela” (o do banco do passageiro então, era aquela manobra) e conferir todos os dias se as quatro portas estavam fechadas, além de não ter alarme, o que não impede nada hoje em dia, mas pelo menos ajuda a dificultar o roubo.

Mas não é sobre isso que eu quero falar. Acontece que o fato de eu ter ficado sem carro durante um dia todo praticamente me obrigou a andar a pé pelo bairro do Ipiranga, onde fica não só a oficina, mas também alguns dos lugares mais interessantes da cidade. Sem que eu soubesse disso!



Logo ao lado da oficina, na Av. Nazaré, me deparei com um globo grande e prateado. Mostrava a posição do sol em relação à Terra e eu, curiosa que sou, fiquei lendo as explicações daquele globo até que, de repente, resolvi olhar pra dentro do local e avistei um grande esqueleto de dinossauro. Sim, isso mesmo! Sem saber, estava em frente ao Museu de Zoologia da USP, um casarão lindo e superinteressante que abriga milhares de exemplares de animais. Na entrada, fósseis e explicações sobre como eles se formam. Em seguida, diversos animais empalhados, aves, mamíferos e insetos. Me senti no filme “Uma noite no museu”, afinal era pouco mais de 8h da manhã e eu estava sozinha no local. Apesar de receber excursões de escolas todos os dias, era cedo demais e elas ainda não haviam chegado.

Quase duas horas de passeio pelos mais variados itens da nossa fauna, uma verdadeira viagem por todos os continentes, segui o passeio. Esqueci de comentar que, ao comprar o ingresso para o Museu de Zoologia (a inteira custa R$ 6,00), você ganha uma entrada para o Museu Paulista, popularmente conhecido como Museu do Ipiranga, e vice-versa. Logo, eu tinha agora um ingresso para conhecer um pouco mais sobre a história da nossa cidade neste outro museu.

Descendo um pouco pela própria Avenida Nazaré, chega-se ao Parque da Independência, onde fica o famoso Monumento ao Centenário da Independência, de 1922. O parque é maravilhoso, e mais ainda é o Museu Paulista, que fica bem no alto. Lá, podemos encontrar muito da história do Brasil e principalmente de São Paulo, uma linha do tempo que começa com os Bandeirantes e a formação da Vila de São Vicente, passando pela transformação dos serviços públicos e ofícios na cidade até os principais itens do cotidiano doméstico dos paulistanos no século XIX, como os utensílios para banho e até a curiosa escarradeira, usada nas casas das pessoas mais ricas para que os convidados pudessem – isso mesmo! – retirar o excesso de saliva e catarro do organismo.



Eu havia me esquecido do quanto gostava de história. Viajei pelos quadros, objetos, bustos de ex-presidentes e anúncios de lojas divulgando serviços e produtos que hoje não se vê mais. Bateu uma esperança gostosa ao ver algumas crianças realmente interessadas no que estava sendo mostrado ali, anotando em seus caderninhos para o trabalho de escola e discutindo entre si sobre como devia ser aquela época. Dava pra sentir a energia daquelas coisas antigas, que fazem a gente imaginar tudo o que já se passou nesse mundo antes de a gente existir.

Era hora de pegar o carrinho de volta. Voltei à loja e, para meu espanto, ainda levaria cerca de 2 horas a mais para ficar pronto. Isso me obrigou a seguir o passeio pelo bairro...

Vários quarteirões depois (debaixo do sol quente do meio-dia), me deparo com o Aquário de São Paulo. É simplesmente o maior aquário da América Latina, com cerca de 3 mil espécies de animais. Lá, encontra-se não só peixes, mas também cobras, jacarés, aves e até macacos! Alguns tanques são realmente grandes – como o do lobo marinho e do peixe-boi gigantesco que mora lá – e as crianças ficam absolutamente hipnotizadas com a performance dos animais, principalmente o tanque dos tubarões e raias. Curiosamente, lá também se encontram morcegos gigantes, pinguins, e até lontras, que oferecem um espetáculo de acrobacias.


Muitas horas de passeio depois, com as pernas já dormentes, retorno ao ponto inicial, tendo conhecido alguns dos principais pontos turísticos da cidade, praticamente sem querer. Um passeio incrível, sempre tão ao meu alcance e que nunca havia reservado um tempo para ir.

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Serviço
 
Museu de Zoologia da USP
Avenida Nazaré, 481 – Ipiranga
Ingressos: R$ 6,00
(11) 2065-8100

Museu Paulista
Parque da Independência, s/n – Ipiranga
Ingressos: R$ 6,00
(11) 6165-8000

Aquário de São Paulo
R. Huet Bacelar, 407 – Ipiranga
Ingressos: R$ 30,00 (adultos)
(11) 2273-5500

terça-feira, maio 31, 2011

Toque-me, sou teu

Dica: Ligue o som para uma melhor ambientação.

Era uma manhã ensolarada de sábado. Sozinha, estava a caminho da Rua José Paulino - paraíso de mulheres em busca de roupas bonitas e baratas - e, obviamente, de metrô. O trajeto incluía sair da Estação Conceição, cruzar as linhas verde e vermelha e chegar até a Estação da Luz.

Recém-chegada da Europa, tinha trazido o costume de prestar mais atenção à arquitetura dos lugares, principalmente de São Paulo: "também temos igrejas e construções maravilhosas", pensava, conferindo detalhes que até então passavam despercebidos. Por isso, ao chegar à Estação da Luz, fiquei maravilhada com aquela enorme estrutura de ferro, os vitrais, os detalhes no teto e nas paredes, os grandes portões de madeira de onde já se via o belo Parque da Luz...

Foi quando me chamou a atenção um piano, bem no meio do salão central da estação. Ele tinha várias mãozinhas adesivadas e um aviso: "toque-me, sou teu". Fiquei rodeando o piano, meio sem jeito, até que por fim resolvi arriscar um dedilhado. Sentei-me e, puxando do fundo da memória, comecei a tocar a Sinfonia nº 40 de Mozart (essa música que, se você ligou o som do computador e aceitou a dica ali de cima, está tocando agora).

Aos poucos, fui me deixando envolver na melodia, e a música foi fluindo como se adormecesse de uma memória antiga e, agora, ressurgisse com a força e emoção a que lhe eram devidas. Olhava para cima e para os lados, toda aquela arquitetura histórica, aquele marco da cidade de São Paulo, e eu ali, no meio de centenas de pessoas que iam e vinham... Até que um senhor parou para me escutar. "Que bonito, isso, menina", foi a única coisa que ele disse, e se manteve ali, me ouvindo, se deixando levar pelo mesmo som e, quem sabe, pela mesma emoção que me tomava naquele momento.

Queria ter uma câmera naquela hora, ou que um destes "cinegrafistas de celular" tivesse documentado essa passagem. Mas tudo bem, ficou bastante marcado na memória e, principalmente, no coração.

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O projeto "Toque-me, sou teu" está espalhado por diversos pontos da cidade de São Paulo.
Mais informações: www.pianosderua.com.br

domingo, fevereiro 27, 2011

O coração dos aflitos pipoca dentro do peito

A pessoa aqui anda um tanto quanto aflita. Mas, assim, parece que é algo da pessoa que QUER estar aflita, em que as próprias escolhas levam a isso. Parece meio óbvio, mas o fato é que, na grande maioria das vezes, poderíamos reduzir o estresse com o simples fato de nos cobrarmos menos.

Pra quê ir na academia antes da consulta médica antes da reunião de trabalho? E querer aproveitar cada 10 minutos de sobra pra providenciar alguma coisa qualquer, e o pior: ficar absolutamente indignada se as pessoas ao redor não pensam/agem da mesma forma. Como assim?? Você chegou em casa às 20h e não fez NADA? Nem uma compra no mercado, uma faxina, uma lista de "to-do's" para o dia seguinte?

Parece até engraçado… mas que cobrança doentia é essa, gente? E é por essas e outras que buscamos a ajuda da psicóloga: pra ela dar um tapa na cara que fica ardendo horas, às vezes dias, e faz com que a gente repense e mude algumas coisas. Ou pelo menos tente.

A última consulta foi a maior prova disso: cheguei esbaforida, respiração ofegante, porque o metrô estava lotado e eu tive que sair correndo pra não perder o horário e cheguei lá sem comer direito e engoli um copo d'água e outro de café e meu coração estava acelerado e minha vontade era de andar de um lado pro outro e…. EI!

Ela me fez sentar e respirar. "Mas o que você acha que está fazendo, apressada deste jeito?" Parei. Olhei ao meu redor: estávamos sozinhas. Duas poltronas, um pequeno armário com porta-retratos da família, um bebedouro. Só nós duas, uma de frente pra outra. E então, comecei a falar sobre minhas ânsias, essa vontade de sair correndo e abraçar o mundo, de atender a todas as expectativas internas e externas, de aproveitar cada 10 minutos sobrando…

"APROVEITAR? Quem disse que você está aproveitando?" Foi o que bastou para que eu me calasse. Não, eu não estava aproveitando meu tempo livre. E isso foi só o começo: ela também perguntou se eu vinha dormindo bem - cabisbaixa, assumi que não. E então questionou: quer envelhecer antes do tempo? Sem dormir nem comer direito, trabalhando da forma errada e em excesso, fazendo academia mesmo quando o corpo pede arrego… Pera lá! Não é isso que você quer pra sua vida, é? Cabelos brancos e rugas, antes do tempo?

Saí do consultório em direção à estação de metrô. Foram apenas 2 minutos respirando fundo e tentando caminhar, tomando conhecimento do que estava ao meu redor com tranqüilidade. A primeira olhada no relógio, e voltei a correr. Literalmente, corri até a estação, a voz dentro de mim voltava a gritar: "você está atrasada! Corre!"

Foi quando praticamente tropecei em um senhor, que se dirigia ao sentido Jabaquara do metrô. "Desculpa", falei rapidamente me desviando, quando percebi que se tratava de um senhor CEGO! "Ah meu Deus, me desculpe, o senhor está indo para o Jabaquara mesmo?" 

E ele estava indo para Corinthians-Itaquera. Ou seja, estava no lugar errado! Naquele momento, atrasada, optei por respirar e ajudar aquele homem. Peguei-o pelo braço, subimos a escada rolante e nos dirigimos ao outro lado da estação, onde estava a saída que ele precisaria pegar. 

A sensação de ajudar uma pessoa, naquele momento, encheu meu coração de paz. E eu percebi que estava, esse tempo todo, correndo atrás da felicidade. Mas a pressa era tanta que a felicidade estava correndo atrás de mim, e não me alcançava.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Pra não dizer que não falei das flores




Nesta época do ano, as flores que moram em frente à minha casa nascem e morrem todos os dias. Quando saio, de manhãzinha, elas estão nascendo, ainda tímidas e entreabertas. Na hora do almoço, abrem-se pra tomar o melhor sol do verão, enchendo de cor e alegria o jardim da frente. Já quando volto, à noite, elas estão murchinhas, desanimadas, como se tivessem se cansado de oferecer tanto brilho ao dia. E então caem ao solo, exaustas. No dia seguinte, de manhã, o processo se reinicia.

Parece que me sinto mais forte sempre que as vejo, de manhã. Porque no fim do dia, assim como eu, elas estão acabadas. Parecem querer desistir da vida, caindo mortas ao chão. Mas não. A energia que corre por ali dá forças o suficiente para que elas acordem no dia seguinte, tão lindas como de costume, e se abram pra vida com a força de quem renasce a cada nascer do sol.

2010 nasceu, abriu-se para a vida, murchou e morreu. E suas pétalas serviram de adubo pra terra de onde brotou 2011, este que nasce com o vigor habitual dos anos-novos, com vontade de brilhar ao sol, irradiar alegria e dar mais colorido à vida.

As flores que moram em frente à minha casa nascem e morrem todos os dias. E me sinto mais forte toda vez que olho para elas, qualquer que seja o seu estágio. Porque respeito estas fases, porque sofro com as suas mortes diárias, e principalmente porque admiro sua força de renascer no dia seguinte.

Que 2011 seja um ano de diários e renovadores recomeços.