domingo, abril 06, 2014

#18: Conhecer o Edifício Martinelli (e toda a sua história)

Acordei no domingo com vontade de conhecer um lugar novo. Olhei pela janela e o dia estava nada convidativo pra sair: muitas nuvens, vento e chuvinha fina. Daí entrei no infográfico da Veja que mostra 460 programas pra se fazer em São Paulo e elegi o Edifício Martinelli pra ser a novidade do dia, acompanhada da minha irmã, e contrariando a minha mãe, que disse que lá estaria horrível com aquele tempo nublado.

O prédio fica próximo ao Metrô São Bento, no centro de São Paulo, mas resolvemos ir de carro mesmo. Tem um estacionamento bem perto, na Rua Líbero Badaró, e chegamos quase no horário de fechar, 13h. Já havia algumas pessoas esperando pra entrar e logo apareceu um negão simpático, que me lembrou muito o Eddie Murphy, falando alto: “só esperar essa escola sair que a gente sobe!”

Entrada do prédio
O elevador nos levou até o 26º andar, onde fica uma varanda enorme de onde se tem uma vista super bacana da cidade. Bem ao lado fica o Edifício Altino Arantes (conhecido como prédio do Banespa), e também a sede do Banco do Brasil, onde meu pai trabalha. Nosso guia Vladimir (o Eddie Murphy) foi nos levando para uma volta pela cobertura enquanto contava a história deste que foi o primeiro arranha-céu da cidade.

Banespão ao lado.
Disse ele que um empresário italiano - Giuseppe Martinelli - se mudou para o Brasil no final do século XIX. Naquela época, São Paulo era uma cidade totalmente horizontal, com prédios de no máximo 8 andares, e o italiano resolveu construir o primeiro prédio com mais de 100 metros de altura. Isso fez com que os paulistanos duvidassem de sua capacidade, achando que a qualquer momento o prédio iria cair.


Inicialmente, foi projetado para ter 12 andares, mas foram-se acrescentando novos pisos até que chegou a 26 andares. Como prova de que confiava na estrutura do prédio, Martinelli construiu sua casa na cobertura, com mais 4 andares, chegando assim a 30 e constituindo-se como o prédio mais alto da cidade de São Paulo.

Bela vista da cidade feia.
Em 1929, quando inaugurado, o Edifício Martinelli era altamente luxuoso, abrigando o Cine Rosário e o Hotel São Bento. Porém, esse período de glória não durou muito. “Esse prédio viveu do luxo ao lixo”, disse Vladimir, com jeito de quem fala isso muitas vezes ao dia. E explicou que a construção do prédio teve um custo muito alto, e ele teve que ser vendido a preço de banana para o governo da Itália na década de 40. Mudou de nome - passando a se chamar Edifício América - e ficou relativamente abandonado por muito tempo, até que entre 60 e 70 passou a ser habitado por famílias de baixa renda.


E esse foi o lixo a que Vladimir se referia. O prédio virou uma grande favela vertical, tomado pelo tráfico de drogas e prostituição, e eram comuns assassinatos por ali. Toda essa energia pesada levou ao surgimento de várias lendas urbanas, como a loira do corredor ou os diversos espíritos que supostamente vagam no prédio.


Em 1975, o prefeito de São Paulo resolveu salvar o prédio e convocou o exército para retirar os moradores dali. Começou então um processo de restauração e reforma de todos os pavimentos, que tiveram seus sistemas elétrico e hidráulico substituídos. Infelizmente, nada dos móveis da época foi mantido ou resgatado (o que não foi levado pelas famílias, foi destruído por elas).


Desde que foi reinaugurado, no final da década de 70, o prédio deu lugar a várias secretarias da prefeitura, e há o projeto de construir um museu sobre a história do local nos 4 andares superiores onde era a residência de Martinelli. Espero que isso aconteça mesmo, pois é um lugar que tinha tudo pra ser incrível, e sofreu muito as consequências de uma má administração, ao longo do tempo.

Prédio do Banco do Brasil.
Rodamos pela varanda, fotografando o prédio do Banespa, os outros arranha-céus vizinhos e a bela arquitetura do Martinelli. O dia estava realmente muito cinza, trazendo um ar meio sombrio para essa visita. Mas quer saber? Isso sim é que é São Paulo de verdade.


O Edifício Martinelli fica aberto de segunda a sexta, das 9h30 às 11h30 e das 14h às 16h. Aos sábados, abre das 9h às 15h e, aos domingos, das 9h às 13h.
A entrada é gratuita.
Mais informações: www.prediomartinelli.com.br