segunda-feira, dezembro 20, 2010

Uma tarde com os avós mais divertidos do mundo

Quando voltaram à igreja em que se casaram, 50 anos depois.

Meus avós, modéstia à parte, são duas das pessoas mais incríveis que já conheci. Casados há 58 anos - ele com 83, ela com 79 - eles mantêm alguns costumes fofos, como deixar bilhetes carinhosos ou tecer elogios um ao outro na frente das pessoas.

Mas não é por isso que resolvi escrever sobre eles. É que, recentemente, estava pensando no quanto era divertido visitar meus avós quando era pequena. Pra falar a verdade, me sentia em uma gincana: quando chegávamos, um dos dois jogava um saquinho de supermercado com a chave dentro, pra que não precisassem descer pra abrir. Se era a chave da minha avó, ela logo orientava: "o portão de fora, você abre com a chave amarela de ponta-cabeça, e a porta de dentro é a chave preta!"

Já se fosse meu avô a jogar a chave, já vinha acompanhada de sua voz grossa: "filha, abra com a verde de ponta-cabeça, e a porta de dentro com a chave branca!" Achava o máximo ter que caçar a chave amarela ou a verde e colocá-la de ponta-cabeça, ainda que já soubesse de cor qual a orientação para cada chave, sua cor e posição.

Sempre tinha um lanchinho gostoso. Não teve uma só vez que eu chegasse lá e não tivesse meia dúzia de sonhos de padaria me esperando, fresquinhos, acompanhados de um suco de laranja com manga - uma das muitas especialidades de meu avô (juntamente com o pão de cabaré, o kibe cru e tantas outras delícias). Minha avó logo me chamava para irmos à varanda, ver os carros passarem, e brincávamos de contar quantos carros passavam de cada cor: cada um escolhia uma cor e ia contando, um a um, pra ver quem ganhava.

Depois meu avô vinha com a lista das personagens da rua Major Sertório. É que todo dia, no mesmo horário, eles costumavam ficar na varanda observando as pessoas e, como as mesmas pessoas passavam todos os dias (para seus compromissos diários), eles passaram a apelidar uma a uma, criando uma lista com mais de 50 nomes, um mais engraçado que o outro.

"Veja quem está vindo! É o Paulo Coelho mais gordo!" E lá vinha ele, um cara igualzinho ao Paulo Coelho, só que, claro, mais gordo. E passava a Xica da Silva com o filho, o Antonio Banderas dos pobres... e eu ria longamente, gargalhava alto, tão alto que às vezes alguém parava na rua e olhava pra cima, tentando entender do que tanto riam aquele casal de senhores e aquela menina.

E sabe o que é mais legal? Tudo isso aí acima acontece até hoje, toda vez que vou à casa de meus avós.