terça-feira, julho 31, 2007

Inuká: uma loura com alma de índio

Lembro-me da primeira vez que a vi dançar. Usava um cocar de penas coloridas, muitos colares e roupas esvoaçantes. Seus cabelos louros e compridos até a cintura balançavam conforme as batidas da música eletrônica, impulsionados pelo vento constante da Bahia.

Pra ela, parecia não haver mais ninguém ali. De olhos fechados, balançava os braços e a cabeça, como se cada acorde, cada melodia, percorresse sua mente numa viagem psicodélica.

Aquela cena ficou marcada em mim. Quem seria aquela senhora tão bonita, que invocava deuses enquanto dançava?

Foi então que, numa tarde ensolarada do Maranhão - como não poderia deixar de ser - eu a vi sentada, conversando com Beth, minha vizinha de barraca. Sentei-me ao seu lado, invadi respeitosamente a conversa, e pude olhar bem de perto aquela mulher que, além de cabelos louros, tinha também penetrantes olhos azuis - e muita estória pra contar.

"Qual o seu nome?", eu pergunto, e ela, sorridente: "Inuká".

Durante algumas horas, viajei por tribos e vilarejos de todo o Brasil, mesmo sem sair de baixo daquela tenda cultural colorida. Inucá largou tudo, faculdade de direito, Rio de Janeiro, casa, para se dedicar aos índios. Descobriu-se xamã. Passou a percorrer tribos e a promover a cura através da dança e das ervas medicinais, e a cuidar de crianças desnutridas, e a ajudar os indígenas brasileiros de toda parte.

"Eles vivem na miséria, vocês não têm idéia!" E eu olhando fixo em seus olhos, medo de perder algum detalhe, a enorme semelhança física com minha mãe despertando um sentimento muito forte e involuntário por ela. Sentia-me um pouco sua filha, assim como cada um dos pequenos índios, que ela também chama de filhos.

E fizemos uma oração, e uma meditação em círculo dentro do rio, para renovar as esperanças de um novo ano.

E ela me ensinou sobre o xamanismo, sobre a relação hamônica com a natureza, sobre a vida.

E naquela noite, dancei bem perto dela, pra poder absorver toda energia e o poder de cura de sua dança.

domingo, julho 29, 2007

Festival Fora do Tempo














Uma ilha fluvial com 7 quilômetros de extensão, localizada entre os Estados do Tocantins e do Maranhão, que durante o período de seca na região (maio a setembro) oferece uma bela e ensolarada praia.

Esta paisagem, somada a um céu de múltiplas cores e dimensões, foi o cenário da segunda edição do Festival Fora do Tempo, que ocorreu entre os dias 20 e 25 de julho.

O local, conhecido como Ilha dos Botes, fica no município de Carolina – sul do Maranhão. Uma cidade pequena, com pouco mais de 20 mil habitantes, que recebeu com alegria toda a movimentação causada pelo evento.

Cerca de 2 mil pessoas participaram da comemoração do reveillón do calendário Maia, que calcula o ano de acordo com as fases da lua. Somando-se os ciclos da lua, temos um total de 364 dias, ou seja, fica faltando um dia para que o planeta Terra finalize seu movimento de translação. Este é considerado o “dia Fora do Tempo”, uma data para rever conceitos e idéias.

A preocupação com o impacto ambiental ficou clara desde a chegada à ilha. Os organizadores distribuiram kits contendo um sabonete biodegradável, uma semente de jatobá e uma camisinha. Estes sabonetes permitiram aos mais conscientes tomar banho sem poluir as águas do rio Tocantins.

Além disso, optou-se pelos banheiros ecológicos: latões enterrados na areia com cabines de madeira e palha de babaçu que geraram reclamações de alguns participantes, devido à falta de manutenção constante (cal e papel higiênico). Porém, esta forma de sanitário não deixa resíduos, pois os latões são retirados intactos após o término do festival.

Para quem esteve presente na primeira edição do Fora do Tempo, a surpresa foi grande – a estrutura praticamente triplicou de tamanho. A pista principal era rodeada de estrelas de madeira e palha, com tecidos coloridos oferecendo sombra. O maior destaque da decoração certamente foram os tótens com símbolos indígenas, produzidos com material reciclado pelo simpático artista uruguaio Antonio.

Com mandalas, tecidos e colchões espalhados pelo chão, o chill out estava aconchegante e sua sonorização ambientava as atividades que aconteciam logo ao lado, na tenda cultural.

Sem dúvida, um dos maiores investimentos desta edição do festival foi a praça de alimentação, com opções para todos os gostos. As mais de quinze barracas funcionavam 24 horas, e não faltou comida durante todo o tempo.

O que também não faltou foi boa música. Com o crescimento do evento, aprimorou-se também a estrutura de som, que tornou-se maior e com mais qualidade. A grande cabine, construída com toras de eucalipto, recebeu artistas brasileiros e estrangeiros. A proposta do evento de valorizar djs e produtores regionais manteve-se neste ano, e o que se viu foi um amadurecimento nas apresentações.

Foram muitos os convidados internacionais: Etic e E-jekt (Israel), Ital (Chile), Galaktik Wave (França), Rex (África do Sul), Hamelin e Ecliptic (México). Com desempenho de alto nível, os artistas mostraram um pouco de suas experiências nas mais variadas vertentes do trance psicodélico.

Sempre uma apresentação à parte, o trio Yagé – já conhecido por tocar nos principais festivais brasileiros – encantou o público com interferências musicais orgânicas como flauta, berimbau, tambores e até um berrante.

Dentre os artistas nacionais, destacaram-se os lives Cosmo Tech, Baphomet Engine, Crystall, Cannibal Barbecue, JP, Mental Broadcast e HYT, representando os Estados de Goiás, São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul e Pará.

A confiança depositada pelo evento em alguns djs nacionais trouxe como resposta boas surpresas. As principais delas foram os djs Diff (MA), Marcel (TO), Kali (ES), Piro (DF), Vinnix (SP), Pateta (PE) e Sarto (DF), que mostraram sets sérios e competentes.

É claro que os mais conhecidos não deixaram a desejar. Veteranos como Pedrão, Rodrigo CPU, Ekanta e Xamã fizeram jus à sua história na cena psicodélica nacional e movimentaram a pista de dança com técnica e responsabilidade.

Infelizmente, o caos aéreo impediu a chegada de importantes artistas. Um desfalque considerável foi o grupo paulista Pedra Branca, programado para tocar no último dia do festival. Mesmo assim, o chill out apresentou de reggae a jazz, com apresentações diversas como Smurf (SP), Pablo RST (CE), Radiola Rasta (CE) e o memorável versus entre a banda argentina Muamba e os integrantes do Yagé.

Para aqueles que buscavam uma transformação da consciência coletiva, as atividades culturais disponibilizaram não só entretenimento, mas principalmente troca de informações e experiências sobre os mais variados temas. Xamanismo, meditação ativa, oficinas, palestras e filmes ofereceram novos conhecimentos aos interessados.

A participação de grupos artísticos de várias partes do Brasil trouxe ainda mais magia à festa. Rituais de fogo, fantasias, tintas coloridas e intervenções teatrais permitiram um encantamento coletivo, que uniu os participantes em uma grande celebração.

Mesmo com a distribuição de “bituqueiras” (potinhos de filme fotográfico), era triste ver a quantidade de pontas de cigarro jogadas ao chão. A título de informação, este micro-lixo é formado por viscose, material que demora no mínimo dois anos para se decompor.

Ainda assim, o balanço final foi positivo. Era notável a integração entre o público de diferentes Estados, que voltou pra casa com algo diferente dentro de si: sentimentos de unidade, respeito e evolução espiritual.

Colaboração de PH Schneider

quinta-feira, julho 12, 2007

Drogas, glamour e palavrões

M - faaala Ri
R - blz?
M - blz e aí, como foi a festa do Valentino?
R - irada, perfeita
M - eu vi umas fotos no Uol Estilo, mas só das celebrities
R - eu vi várias celebrities, mas num sei quem era ninguém quase... tirei foto com algumas
M - vc viu a Uma Thurman?
R - Ricardo sent you a file -



M - CARALHO PUTA QUE PARIU!!
R - ela é horrorosa
M - eu acho ela linda
R - tem melhores. E ainda ela tinha acabado de dar uns tiros no banheiro (pelo menos foi o que eu e os outros 3 da foto concluímos)

segunda-feira, julho 02, 2007

A Graça da Vida

A vida tem muita graça, mas a gente só passa a percebê-la e valorizá-la de verdade quando alguma coisa de ruim acontece. E como a arte imita a vida (neste caso, literalmente), é assim também com Kate e Grace Griswald (Graziella Moretto e Nathalia Timberg) na peça "A graça da vida", dirigida por Aimar Labaki.
A estória fala da relação de amor entre mãe e filha, fortalecida depois da descoberta do mal de Alzheimer em Grace. O contato com o sentimento de perda, o desapego, as dificuldades em aceitar que uma pessoa próxima definhe aos poucos foram algumas das questões tratadas no espetáculo, que consegue ser engraçadíssimo e dramático ao mesmo tempo.
Entre risos e lágrimas, interpretações absolutamente perfeitas de todos os atores, que caminharam com desenvoltura pela comédia e pelo drama. Nathalia Timberg, alternando os estados de saúde e doença (em que ficava somente sentada, imóvel, com o olhar perdido), emocionou. Grazi Moretto (que também é a produtora da peça) trouxe um humor inteligente e sarcástico - além de ser linda. Emilio Orciollo Netto, na pele do médico Sam, transmitiu segurança e mostrou que tem talento também para o teatro (só tinha o visto pela TV).
O elenco se completa com Clara Carvalho, engraçadíssima como a perua-atriz Madge; Ênio Gonçalves, como Jack, o marido fraco e submisso de Grace que depois revela sua sexualidade enrustida durante anos, está impecável; Eliana Rocha está muito bem no papel de Lorna, a galinha de meia idade que conquista Jack durante uma viagem; e Fábio Azevedo, divertido e espevitado como Marty, assistente de Kate.
***

Kate é uma produtora de televisão que vive atribulada com o programa para o qual escreve. Mal tem tempo de ver seus pais, Grace e Jack. Um dia, Grace liga para a filha dizendo que há "homens estranhos pela casa", e Kate percebe que algo de grave está acontecendo. Leva a mãe ao médico, Samuel, que diagnostica o mal de Alzheimer.
A partir daí, o que se segue é a luta da filha para recuperar a dignidade da mãe, que aos poucos vai perdendo as células de seu cérebro, e não mais conversa, nem se move. O tratamento é doloroso, até que o surgimento de um novo remédio anima o médico e a filha. Ambos acompanham com entusiasmo a recuperação de Grace, que volta a andar, conversar e palpitar em tudo - as coisas voltavam ao normal, afinal. Pelo menos por um tempo.
Mais do que uma estória sobre vida e morte, "A Graça da Vida" toca profundamente em questões sentimentais. São fatos reais, escritos por Trish Vradenburg sobre sua mãe. Uma estória de luta pela vida, da busca por pequenos momentos de alegria quando já não há mais tanta esperança. Da valorização do que temos de mais precioso, mesmo que essa consciência só tenha surgido diante do sentimento de perda.

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Serviço
A partir de 29 de junho no Teatro Vivo
Av. Dr. Chucri Zaidan, 860 - Morumbi
Tel.: (11) 3188-4141
Horários: Sextas às 21h30, Sábados às 21h00 e Domigos às 18h00
Ingressos: R$ 50,00 - inteira e R$25,00 - meia

domingo, julho 01, 2007

Mariana conta um

Porque tenho amiga Jéssica que não pode falar o nome sem ouvir "o nome dela é Jéssica/eu já falei pra você/é a coisa mais linda/que Deus pode trazer" e amiga Camila que perdeu as contas de quantas vezes já escutou seu nome pela voz de Humberto Gessinger (Camila-há, Camila!).

Tive a "sorte" de ter muitas músicas com meu nome. Não é que seja o nome mais lindo do mundo, nem que rime fácil com qualquer coisa - apesar de que rima mesmo. Eu acho, sim, é que há muitas Marianas queridas no mundo, que inspiraram muitas músicas. Da mais linda à mais irritante, seja pagode, sertanejo ou instrumental, qualquer homenagem é válida.

Yamandú - a mais linda
Há alguns dias escrevi sobre Yamandú Costa, e disse entre outras coisas que "Mariana" é sua canção mais bela. Isso levantou suspeitas sobre uma possível puxação de saco para o meu nome, mas não! Se ela se chamasse Paula, Iracema ou Beatriz (que aliás é a mais bela do Chico, na minha opinião) eu iria continuar achando que é a mais emocionante canção do instrumentista. Pena que não achei nada no Youtube pra mostrar aqui.

Sérgio Reis - a mais engraçada
Um dia, não me lembro quando nem onde, escutei uma música do Sérgio Reis chamada "Adeus Mariana". Na letra, o ex-jovem guarda e atual ídolo sertanejo canta seus conflitos com a brava Mariana: "e ela de zangada foi quebrando tudo/pegou a minha roupa e jogou porta a fora/agarrei, fiz uma trouxa e saí dizendo/adeus, Mariana que eu já vou embora."
O mais engraçado é que, ao final da música, ele começa a resmungar algumas reclamações sobre a esposa. Reclama, reclama e conclui: "eu sei que ela me bate. Mas ninguém tem nada com isso, quem apanha sou eu mesmo!" Sempre rio imaginando aquele homenzarrão de quase 2 metros apanhando da mulher. Até me identifiquei (hihi).

Sem compromisso - a mais irritante
Na época em que "Mariana, parte minha" (composta pelo Neguinho da Beija Flor com o grupo Sem Compromisso) estava na moda, era só falar o nome pra escutar a letra "Mariana te dou/Mariana calor/Mariana, parte minha/Mariana minha flor", graciosamente adaptada pela Rose (que trabalhava em casa) para "Mariana TINDÔ". Sim, ela não me chamava de nada, só de Mariana tindô.

Cantiga de roda - a mais cantada
Essa é a campeã de todos os tempos. No começo, beem no comecinho, eu até achava graça, mas não sei por que começaram a cantar demais, e tudo o que é demais irrita. Começava com: "Maaariana conta um/Um conta Mariana/É um, é Ana/Viva Mariana!" e chegava aos 8, 9, 10. Ainda bem que de uns anos pra cá, pararam com isso. É pra qualquer um passar a odiar o nome pro resto da vida, não?