quinta-feira, março 29, 2007

A banda antiga mais nova em minha vida

Ok, desde que comecei a entender que o mundo é mundo escuto meu pai falando dos Scorpions. Mas até o dia de hoje, confesso que nunca tinha parado pra prestar atenção neste grupo alemão, que pelo que li já está na estrada há mais de quarenta anos.

Meu amigo roqueiro-metaleiro-bate-cabeça Elcio, como sabe que o rock corre em minhas veias (rsrsrs literalmente, levando-se em conta o gosto musical do meu pai), resolveu me apresentar alguns cds do grupo, e eu, como não sou boa pra guardar nomes de bandas nem de músicas, fiquei pasma em saber que alguns dos clássicos que sempre escutei são deles.

Músicas como "Wind of change", "Still loving you" e "Hurricane 2001" são apenas alguns dos sucessos do Scorpions, cujo estilo foi definido como "Traditional Heavy Metal/Hard Rock". As canções melódicas e fortes foram a trilha sonora do meu dia, e serviram de pano de fundo (totalmente pertinente) para momentos de reflexão.

The world is closing in
Did you ever think
That we could be so close, like brothers
The future's in the air
I can feel it everywhere
Blowing with the wind of change

Pertinente é apelido! Thanks, Elcio!

quarta-feira, março 28, 2007

See you at the bitter end

Já era minha banda preferida, desde que, em 2003, o Marcelo apareceu com o "Black Market Music" e falou: "escuta isso. É muito bom."
Eu nunca duvidei do bom gosto do Marcelo pra música, e sempre acolhi suas indicações. Mas não imaginei que, naquele momento, seria atingida de verdade pelos efeitos de um Placebo*.
O show de ontem, no Credicard Hall, serviu para confirmar minhas expectativas: Brian Molko é um dos mais talentosos músicos da atualidade. Ele brinca com a voz, grita sem desafinar uma nota, e mesmo com todos os cigarros fumados ao longo de sua vida, não perdeu a potência vocal que me encantou desde o início.

O show, anunciado para as 21h30, começou com quase meia hora de atraso... quando, enfim, os músicos subiram ao palco, o êxtase foi geral: abriram com "Infra-Red" e, enquanto Molko anunciava: "someone call the ambulance/there's gonna be an accident", meu coração saía pela boca de tanta emoção. Talvez fosse mesmo preciso chamar uma ambulância naquele momento.

Grande parte das músicas tocadas foram lançadas em "Meds", álbum de 2006. A faixa que dá nome ao CD foi tocada logo depois, além de "Drag", "Song to say goodbye", "One of a kind", e com destaque "Because I want you" - que não saiu da minha cabeça até agora - e "Space Monkey", quando Molko cantou os primeiros com um aparato que fez com que sua voz parecesse falada através de um rádio, até o refrão, onde "limpou" a voz para gritar "We're sown together/She's born mesmer/Beside astride her/I die inside her"...

Diferentemente da apresentação no Rio de Janeiro, o trio resgatou mais dos grandes hits, que, como não poderia deixar de ser, empolgaram o público: "Every you, every me" já era esperada, assim como "Special Needs" e "20 years". "Bitter end" era muito aguardada, justamente por ter sido tocada no Rio, mas mesmo assim a platéia delirou ao som das batidas aceleradas de Steve Hewitt e da guitarra perfeita de Stefen Olsdal.

O que eu não esperava escutar, e fiquei surpresa, foram as clássicas "Special K", "Taste in men" e "Without you I'm nothing", mesmo que (gente, eu amo todas, é uma questão de preferência) trocaria estas por "Pure Morning", "Black-eyed" e "This Picture". Ok, já que toquei no assunto, do "Meds" eu queria escutar "Blind", "Broken Promise" e "In the cold light of morning", que acabaram ficando de fora.

Mas é aquela coisa: eu queria um show de pelo menos 5 horas. Não, na verdade eu queria uma apresentação tipo a do mestre Goa Gil, de 12 horas seguidas... aí sim, talvez o show terminaria sem que eu ficasse pensando: "humm, mas e se eles tivessem tocado aquela"...

O melhor de gostar do Placebo é que, mesmo com 10 anos de carreira, o grupo ainda se mantém no underground até certo ponto. A platéia do Credicard Hall estava tranquila para dançar, pular, gritar, enfim! Inesquecível, emocionante. Perfeito.
EM TEMPO: óbvio, achei alguns vídeos no YouTube. Óbvio, estão péssimos, mas arrepiam quem estava lá: Drag (tremidíssimo, mas o som ficou bom), Infra-Red (boa visualização, mas som péssimo), I know (legal pra escutar o efeito de eco que colocaram na voz do Molko, o som está bom, mas a visualização, digamos, é "alternativa"), Meds (som bom, imagem mais ou menos) e, finalmente, Special K (tudo mais ou menos).
* Pra quem não sabe, na medicina, placebos são aquelas pílulas de açúcar usadas no tratamento de doenças psicossomáticas.

segunda-feira, março 19, 2007

Voa, canarinho, voa

A uma hora dessas ele deve estar finalizando a arrumação das suas coisas. Em poucas horas, estará voando em direção a Barcelona.

Este canarinho já conheceu muito do mundão afora, Itália, Malásia, Tailândia... ele gostou muito destes países, aprendeu sobre seus costumes e cultura. Aprendeu também o que é a vida, afinal. Pois foram seus primeiros vôos sozinho.

Agora ele vai voar pra outros lados, conhecer outros países e culturas. E vai aprender ainda mais sobre a vida, agora com um pouco mais de maturidade.

Eu chorei quando me despedi, mas quero muito que ele vá. Porque toda vez que ele voa, volta um canarinho melhor.

Enquanto isso, eu fico aqui, torcendo pelo sucesso e pela felicidade dele. Ansiosa para saber das aventuras de seu vôo. E esperando por sua volta.

Amo você, meu irmão.

quarta-feira, março 14, 2007

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei.
Não sei se fico ou passo.

Sei que canto.
E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Motivo, Cecília Meireles

Uma pequena homenagem ao dia nacional da poesia... porque o que falta no mundo é um pouco de sensibilidade, e a poesia tem sempre muito disso.

Uma homenagem também ao Marcos Arilho, diretor de teatro, professor e amigo, que recentemente passou por maus bocados mas - como sempre - deu a volta por cima com classe. Foi ele que me mostrou este poema, que foi declamado pelo grupo "Nada modestos, porém vaidosos", do qual eu fazia parte, numa mostra que aconteceu no Teatro Paulo Eiró, em mil novescentos e noventa e alguma coisa.

Nesta ocasião, declamei "Menino pretinho num canto", que diz assim:

Menino pretinho num canto
Brincando sozinho, parece um santo.

O mesmo menino na rua
Roubando bala, a culpa é sua.

O menino está sujo, sem roupa.
Pedindo esmola, comida pouca.

O menino tem dor forte no dente!
Não tem remédio, ninguém mais sente.

Menino pretinho num canto
Brincando sozinho, parece um santo.

De preto, com o rosto pintado de branco, declamando o poema e encarando o público como quem diz: "e aí? Não vai fazer nada?"

Saudades dos tempos de teatro. A gente podia ser quem quisesse.

domingo, março 11, 2007

Mudança de hábito

Pronto, o limite do descontrole foi alcançado.

E quando se chega no limite, é bom! Porque você olha e pensa: "a que ponto chegamos" e percebe que é a hora de mudar. Porque se a gente não muda, os outros não mudam e a vida continua na mesma, com os mesmos problemas!

Faltava, sim, paz à alma. O espiritismo me mostrou que é possível, com musicoterapia e harmonização.

Faltava, também, um pouco de individualidade. Coisa que a gente só percebe quando pode observar a situação à distância.

Ai, ai... nada como uma seção intensiva de psicologia a três.

##
"Viva à sua maneira
Não perca a estribeira
Saiba do seu valor"
Teatro Mágico

sexta-feira, março 09, 2007

Carta consciente

Prezada Mariana,

Tenho te acompanhado fielmente, durante os 22 anos de sua vida. Sempre na minha, dando uns toques, mas agora resolvi desembuchar. Porque não aguento mais ver você se decepcionar com as pessoas! Às vezes não é nem erro de outrem, mas sim, seu. Por favor não se cobre (você já se cobra demais), mas tente ver as situações por outro aspecto.
Mesmo com sua personalidade explosiva, ninguém sabe melhor do que eu que as suas intenções sempre são as melhores. Você sempre faz de tudo para ser agradável, sempre escolhe o caminho do bem em suas decisões, e isso é ótimo!
Você só não pode pensar que todo mundo é desse jeito, Mari. Por favor, pára de esperar das pessoas o que você faria por elas, pois isso te prejudica! Você espera, espera, confabula, imagina, e no fim das contas, o que acontece? Você se decepciona!
E não é nem porque as pessoas estão mal intencionadas em relação a você, mas sim, porque VOCÊ ESPERA DELAS O MESMO QUE FARIA POR ELAS! E é errado!
Não pense que todo mundo é igual a você. E não espere, não imagine situações de contos de fada! Eu vejo sempre passar por mim essas situações. Você imagina: nossa, nesta situação eu faria isso, isso e isso! Imagina se ele também faz o mesmo? E não acontece, e você se chateia, se decepciona. Entenda, as pessoas podem estar dando o melhor de si, mas este melhor não é igual ao seu melhor!
Querida, busque seu reconhecimento, e não perca os estímulos em continuar fazendo o máximo que pode pelas pessoas. Mas de uma vez por todas, pára de esperar o mesmo que você faria por elas.

Pense nisso.

Um grande beijo,

Sua Consciência.

terça-feira, março 06, 2007

Mais Gabo

Quando escrevi sobre "Cem anos de Solidão", o primeiro que li de Gabriel García Márquez (emprestado pela Cá), terminei com um "até a próxima", porque me encantei com a forma dele de escrever. Pouco depois, outro grande amigo (Diego) me emprestou "Relato de um náufrago", de 1970, também de Gabo. O que seria de mim sem meus amigos?

§§

Imagine um navio da marinha colombiana, que partia dos Estados Unidos em direção à Cartagena, na Colômbia. Estando a poucas horas de chegar ao seu destino final, o destróier tomba por causa de um vento forte, e da pesada mercadoria que carregava.

Alguns membros da tripulação caem ao mar, e todos morrem, com exceção de Luiz Alejandro Velasco. Este encontra um bote - chamado de balsa no livro - e consegue alcançá-lo, passando nele dez dias sem comida nem água.

Munido apenas de seu relógio e da roupa do corpo, o homem narra sua história, contando como lidou com a fome, a sede, o calor do sol e os devaneios psicológicos que isso começou a causar.

A cada dia, novos desafios surgiram, como a presença dos tubarões que chegavam pontualmente às 17h00 e os ventos fortes que chegaram a virar a balsa. Depois de um tempo, Velasco não quer mais lutar por sua vida, e a cada desistência um novo estímulo aparece para renovar-lhe as esperanças.

Ao décimo dia, o marinheiro avista terra firme, e mesmo sem forças, nada cerca de dois quilômetros para atingi-la. É, então, encontrado pela população de um pequeno vilarejo, e torna-se em pouco tempo herói de seu país.

Quando retorna a Cartagena, o homem é isolado em um hospital naval e proibido de falar com jornalistas. Depois de recuperado, passa a protagonizar anúncios dos mais diversos produtos, aproveitando-se de sua história e sua posição. E assim termina o livro.

Isso até daria um bom filme (aliás, o tema já rendeu um bom filme, o famoso "Náufrago", com o Tom Hanks). Mas... neste caso, trata-se de uma história real. (óóóhhh)

Tempos depois de fazer todo tipo de propaganda, quando o público já estava cansado de saber de suas histórias, Luiz Alejandro Velasco procurou a redação do jornal El Espectador, onde Gabriel G. Márquez trabalhava como repórter. Disse que queria contar seu relato para publicação no jornal, que na época buscava assuntos interessantes que fugissem de política (pois o país estava sob a ditadura de Gustavo Rojas Pinilla, que censurava a imprensa, claro).

O editor do jornal resolveu aceitar a proposta, e durante vinte dias, Gabo escutou detalhadamente os causos do náufrago.... e o mais legal da história vem depois de tudo isso.

Durante os encontros de G.G.M. com o rapaz, descobriu-se que, ao contrário do que a imprensa vinha divulgando até então, não houvera uma tormenta que derrubara a embarcação, mas sim, o destróier tombara por causa do excesso de peso.

O detalhe é que a tripulação encheu o navio de eletrodomésticos para suas famílias, ou seja, mercadoria ilegal, já que não se poderia colocar tanto peso em um destróier.

Nem preciso dizer que o governo não gostou nada que a verdade fosse mostrada! Com a divulgação dos reais fatos no El Espectador, o ex-herói perdeu seu posto, e Gabo ganhou de brinde um exílio.

Na introdução, o escritor diz que não consegue entender a utilidade em publicar este relato em forma de livro. Critica também os editores, que em sua opinião insistiram em publicá-lo somente por ele ser um escritor da moda.

Picuinhas à parte, "Relatos de um Náufrago" é jornalismo literário puro. E mostra mais uma vez o valor deste que se tornou meu escritor preferido.

segunda-feira, março 05, 2007

Quando estou grávido

Algumas exposições de arte contemporânea seguem a linha do "a roupa nova do rei": muita gente não entende mas, como os cults dizem que foi bom, acaba que todo mundo acha legal, mesmo sem saber o que o artista quis expressar.

O mesmo não acontece com a exposição do indiano Anish Kapoor, no Centro Cultural Banco do Brasil. A cada obra, Kapoor mostra a que veio e provoca as mais diversas reflexões.

São 9 trabalhos, entre instalações, esculturas e o único vídeo produzido pelo artista. Cada um deles provoca reações estranhas nos visitantes, como o embaralhamento da vista, efeitos diferentes na voz e sensações de hipnose através de espelhos, metais e luzes.

A obra "Divide" foi feita especialmente para São Paulo, e nela foram utilizadas cinco toneladas de cera vermelha. É possível ver as marcas das mãos de Anish nas paredes, e também o toco de madeira que ele utilizou para fazer alguns efeitos, que se encontra ao lado da instalação. Isso traz um caráter intimista e bem interessante ao trabalho.

No Vale do Anhangabaú está a instalação que nomeia o projeto: "Ascension". Um filete de fumaça que parece dançar, sugado por algo que parece um cano de aspirador gigante. Intrigam os furinhos no chão, de onde a fumaça sai coreograficamente.

Porém, a obra que mais me impressionou foi "Quando estou grávido" ("When I am pregnant", 1992, foto*), que no início mais parecia uma parede branca com uma sombra pintada. Depois que a vista estava embaralhada, e eu não via mais do que uma mancha, caminhei pela instalação e percebi que, na verdade, se tratava de uma protuberância.

Li que Anish Kapoor quer que suas obras pareçam importadas de outro mundo. Posso falar? Ele consegue não só fazer com que elas se pareçam de outro mundo, mas principalmente, nos transporta para este mundo paralelo que vem de sua cabeça.

Motivos para ver Anish Kapoor no CCBB:
- É a primeira exposição individual do artista na América Latina.
- O cara é muito bom e causa sensações indescritíveis.
- Você vai sair com outra idéia do que é arte contemporânea.
- É de graça. Não tem desculpa.

Serviço:
Centro Cultural Banco do Brasil
R. Álvares Penteado, 112 - Centro
Terça a domingo, das 9h às 20h
Informações: (11) 3113-3651

* esta foto não foi tirada na exposição de São Paulo, onde a protuberância recebeu uma "irmã". É, uma irmã mesmo: "Sister Piece of When I am Pregnant" (2005), que é uma reentrância e fica ao lado da irmã mais velha.